Brasileiros compram mais roupas e sapatos pela internet

Sites de moda investem em padronização e saltam do 26º para quarto lugar entre os setores que mais vendem no comércio eletrônico em quatro anos

Para as lojas de roupas e sapatos em ruas e shopping centers, o ano passado pode ter sido desanimador, mas as varejistas online nunca venderam tanto e acreditam que 2012 será ainda melhor. Dados da pesquisa WebShoppers, realizada pela consultoria e-Bit, do grupo Buscapé, mostram que o comércio de moda e acessórios pela internet subiu do 26º lugar em 2007 para a quarta posição entre os segmentos que mais vendem em todo varejo eletrônico brasileiro.

No futuro, preveem os consultores, o setor possui todas as chances de ser um campeão de vendas online. No ano passado, o varejo de moda e acessórios já ultrapassou as vendas de livros no comércio eletrônico e passou a representar 7% do total vendido pela internet brasileira, que foi de R$ 18,7 bilhões.

Para Rafael Bluvol, gerente de marketing da Marcyn, loja que vende lingeries pela internet, a maior maturidade do comércio online no Brasil fez com que os consumidores ganhassem confiança no segmento de moda.

Qual é o seu tamanho?

Mas foi a padronização dos tamanhos a principal responsável pela conquista de credibilidade entre os compradores virtuais, afirma o consultor e fundador da CookieWeb, Natan Sztamfater.

Grandes lojas como a Marisa, por exemplo, contam com um sistema de medidas virtual, em que o cliente pode medir o seu corpo e receber sugestões do tamanho das peças indicadas. No mercado de tênis os tamanhos são mundiais, o que ajuda bastante na hora da venda. No caso de marcas mais conhecidas, como a Ellus ou a Nike que aparecem em vários sites multimarcas, os tamanhos também já são conhecidos pelos clientes.

A padronização dos tamanhos é tão importante para os consumidores quanto a forma como os produtos são apresentados nos sites. As "vitrines online" também têm mudado de formato, diz Sztamfater. "Os fornecedores não trabalhavam bem as fotos de seus produtos, agora estão começando a tratar isso como uma obrigação", afirma.

Dentro da ideia de "vitrine" está a própria programação do site. Segundo Roni Cunha Bueno, diretor de marketing da Nethoes, a loja usa uma plataforma que reconhece o comportamento do visitante. "O torcedor de um time, por exemplo, não encontrará os produtos do seu rival. Há um direcionamento para cada cliente. O comércio eletrônico não pode ser tratado como varejo tradicional, ele agrega outras experiências", comenta Bueno.

Segmentação

Além de investirem em um tipo de pagamento mais seguro e em padrões conhecidos pelo consumidor, as empresas também estão apostando na segmentação. De acordo com Pierre-Emmanuel Joffre, sócio-fundador do clube de compras Coquelux, as diversas marcas presentes no mundo da moda permitem que as lojas online optem por trabalhar em nichos de mercado.

"Acho que há espaço no mercado para montar multimarcas com conceito", afirma Joffre. A especialização do comércio ajuda também o consumidor, que tende a preferir locais que vendam marcas que eles já conhecem. "As grandes lojas online atraíram muitos clientes em cima de preço, com valores muitas vezes insustentáveis. Elas abriram um mundo novo no Brasil, da compra pela internet, mas agora estão perdendo espaço para as lojas especializadas", diz

O Coquelux, por exemplo, cresceu 500% entre 2010 e 2011. Para este ano, o site espera multiplicar por cinco o faturamento. Já a Netshoes registrou faturamento de mais de R$ 600 milhões no ano passado e tem expectativa de atingir R$ 1 bilhão em 2012.

Camisetas e sutiãs

"Anteriormente, o brasileiro comprava a linha branca, livros e CDs. Essa não é mais a realidade das vendas virtuais, elas estão segmentadas e é possível encontrar praticamente de tudo", diz Bueno, da Netshoes.

A setorização não precisa acontecer apenas por marcas conhecidas, como apontou Joffre, pode abarcar tipos de roupa. O site Camiseteria é uma loja que se especificou na customização de camisetas para o seu público. E isso, segundo responsáveis pelo site, deu bastante certo.

Assim como o site de camisetas, a Marcyn não tem uma loja física e conta apenas com a plataforma online para suas vendas. O gerente de marketing da loja, Rafael Bluvol, explica que o fato dela ter se focado em um tipo de produto foi mais importante para seu crescimento que as marcas escolhidas.

Enquanto o e-commerce brasileiro cresceu 25% em 2011, como mostrou a pesquisa WebShoppers, a Marcyn teve crescimento de 40% e a camiseteria de 36% no mesmo período.

Quando chega o pedido?

Tanto Bluvol quanto Joffre apontam que uma das principais barreiras a ser ultrapassada para a consolidação do mercado de moda online é a logística. A entrega de alguns produtos tende a demorar um pouco mais do que o normal, o que afasta os clientes.

Rafael aponta também para a falta de profissionais experientes, especializados em comércio eletrônico e marketing digital. "Se você precisa de alguém, não irá encontrar, terá de tirar o profissional de algum outro lugar, o que torna o custo muito elevado", afirma o gerente da Marcyn.

Mesmo assim, as perspectivas são boas. De olho no que já acontece no mercado americano, em que o setor tem uma participação grande no total de compras online, Bluvol projeta que ele será o terceiro que mais vende pela internet no próximo ano.

Natan Sztamfater é ainda mais otimista. "Em shoppings, quase 95% das lojas são voltadas para a venda de moda e acessórios. A tendência é que o setor domine também a internet", diz o consultor.

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