Comércio espera Natal mais conservador em 2011

A inflação mais alta, o crescimento menor da economia doméstica e o endividamento dos brasileiros, além da crise global, devem presentear os consumidores do país com uma boa dose de cautela neste Natal –artigo raro em 2010.

Isso não quer dizer queda de vendas. A CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) calcula aumento entre 6% e 7% do número de transações comerciais natalinas neste ano –percentual que, no entanto, é bem inferior ao de 10,9% em 2010.

O clima mais conservador do Natal 2011, na avaliação de consultores e varejistas ouvidos pela Folha, deve se traduzir melhor pelo perfil dos produtos que os consumidores levarão para casa e pela estratégia de compra.

"Os consumidores devem mudar o nível de endividamento, optando por itens com preço mais em conta dentro de uma mesma categoria, por exemplo", diz Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos.

A dívida total das famílias brasileiras, de acordo com dados da LCA Consultores, é preocupante e já corresponde a 40% da massa anual de renda, considerando os ganhos obtidos com trabalho e os benefícios pagos pela Previdência Social.

As incertezas no cenário externo, com os problemas econômicos na Europa e nos EUA, também pesam mais neste fim de ano.

"Com receio de que a crise internacional tenha impacto na economia doméstica, o consumidor tende a evitar parcelamentos longos", afirma Almawi.

Assim, visitando lojas de grandes redes varejistas em São Paulo, é comum ver os produtos que custam mais -como eletroeletrônicos e linha branca (fogão, geladeira, entre outros)- expostos com uma grande variedade de modelos e preços. E, geralmente, os mais em conta ficam à frente nos mostruários.

Mesmo assim, de acordo com a CNDL, os eletroeletrônicos perderam até 10% de participação no "mix" de produtos das lojas neste Natal, enquanto itens de perfumaria e cosméticos ganharam o dobro de espaço.

"Perfumes e cosméticos são produtos que entraram mais recentemente na lista de preferências dos consumidores da nova classe média. E, pelo valor mais acessível, são uma aposta dos lojistas", diz Roque Pellizzaro Junior, presidente da instituição.

"Vestuário também é beneficiado em um ambiente de consumo mais cauteloso, pois tem uma grande variedade de preços e modelos, além de atender a uma necessidade prática", afirma Marcelo Villin Prado, diretor do Iemi (Instituto de Estudos e Marketing Industrial).

OUSADIA ANORMAL

Ainda na avaliação de Prado, 2010 foi um ano de "ousadia anormal" no consumo, em parte impulsionada por uma "propaganda massiva" de que o país estava imune à crise externa.

"Foi ano eleitoral, e a ideia da crise como ‘marolinha’ no Brasil estimulou a despreocupação", diz o executivo.

"Mas, considerando que 2010 foi o melhor da história em vendas, um crescimento mesmo moderado em 2011 já é muito bom", diz.

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