As famílias da chamada nova classe média (classe C), estrato de 95 milhões de pessoas, com 31 milhões emergentes na última década, gastam mais de sua renda com alimentação, habitação, vestuário, higiene e cuidados especiais, assistência à saúde, fumo e serviços pessoais do que as famílias da classe alta (classes A e B).
Os dados são da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e foram usados pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República para estabelecer o perfil da classe C. A informação será analisada hoje (8) por especialistas em políticas sociais, em seminário sobre a nova classe média que a SAE e o Ministério da Fazenda promovem em Brasília.
De acordo com o governo, formam a classe média as famílias com rendimento de R$ 1 mil a R$ 4 mil. Segundo o secretário executivo da SAE, Roger Leal, “a academia vem legitimando” essa faixa de renda como de classe C. “Os diferentes parâmetros usados não fogem muito dessa faixa”, disse, em entrevista à Agência Brasil. Ele reconhece, no entanto, que um intervalo de renda que começa com valor inferior a dois salários mínimos (R$ 1.090) pode ser contestado. “Sempre a definição de limites é passível de discussão”, admitiu.
Leal pondera que a faixa comporta grande variação de potencial de consumo, desde domicílios que têm R$ 250 de renda familiar per capita até domicílios com R$ 1 mil (média de quatro pessoas por domicílio) de renda. “Dentro dessa banda, há diferentes patamares e variações. Eu não estou querendo dizer que aquele que recebe R$ 250 é igual aquele que recebe R$ 1 mil”, disse, ao destacar a heterogeneidade do potencial de consumo.
Para o secretário executivo da SAE, a classe C se beneficiou das políticas sociais que, desde 2003, diminuíram a desigualdade. Conforme os dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad), de 2009, a taxa de crescimento na renda per capita dos 10% mais pobres foi cerca de quatro vezes acima da taxa de crescimento entre os 10% mais ricos da população.
Leal reconhece, no entanto, que o país ainda é desigual e não conseguiu eliminar a pobreza. “A ascensão significativa não afastou a possibilidade de extrema pobreza. Por isso, o [Plano] Brasil sem Miséria”, disse, fazendo referência ao programa lançado pelo governo em junho.