Mesmo sem ter sido concretizada, a proposta de união entre Pão de Açúcar e Carrefour no Brasil já começa a mobilizar fornecedores, órgãos de defesa do consumidor e sindicatos. Do lado dos consumidores, há o risco de que a megafusão encareça produtos nas prateleiras. Os trabalhadores estão preocupados com o corte de funcionários nas duas redes e a indústria teme perder o poder de barganha nas negociações.
Ontem o assunto dominou a pauta entre compradores e vendedores do varejo, que tentavam prever as consequências do negócio para a indústria e para os concorrentes. "Todos os fornecedores já estão de cabelo em pé. Há uma clara preocupação com o poder de pressão que esse mega varejista poderá exercer", diz uma fonte do setor de alimentos que preferiu não se identificar.
O diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, acredita que, com a megafusão, os contratos comerciais serão cada vez mais difíceis de serem cumpridos pelos fornecedores. "O que se teme é o efeito de desigualdade de negociação, fazendo com que principalmente pequenas e médias empresas se tornem inviáveis como fornecedoras das grandes redes."
As negociações do setor com os varejistas, segundo Herszkowicz, já são complicadas. "Os contratos apresentam diversos níveis de exigências." Um exemplo disso é o chamado "enxoval" – mercadorias fornecidas gratuitamente para a inauguração de novas lojas. "Os grandes compradores vão espremer quem tem menos força", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-conselheiro do Cade, Arthur Barrionuevo.
Os trabalhadores também estão apreensivos com os efeitos da megafusão. Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo e da União Geral dos Trabalhadores (UGT), conta que pediu um encontro com os presidentes das duas empresas, Abilio Diniz (Pão de Açúcar) e Luiz Fazzio (Carrefour), para evitar demissões. Só na cidade de São Paulo, as duas empresas têm cerca de 7 mil trabalhadores nos escritórios centrais, sem contar as lojas, e Patah teme que ocorram demissões. No Brasil, as duas varejistas juntas teriam mais de 200 mil empregados.
Na prateleira
Depois de funcionários e fornecedores, os últimos a sentirem os reflexos da criação da mega varejista serão os consumidores. "Com o mercado reduzido, restarão poucas opções ao consumidor e o preço não vai beneficiá-lo?, diz a presidente do Proteste, Maria Inês Dolci. "Estamos aguardando uma definição para tomarmos uma providência", disse Maria Inês. O gerente de informação do Idec, Carlos Thadeu de Oliveira também alerta para uma possível elevação de preços. "As margens de negociação entre fabricantes e comércio ficarão mais estreitas."