Mercados de vizinhança ganham força no Brasil

Novos hábitos de consumo do brasileiro estão provocando uma mudança no segmento de hipermercados do país. Com menos tempo disponível para passar horas fazendo as compras do mês, o consumidor passou a buscar comodidade, proximidade e praticidade na hora de abastecer a casa. Com isso, um modelo de negócio ganha força no Brasil: os minimercados ou mercados de vizinhança, que cresceram 64% nos últimos cinco anos, segundo levantamento inédito do Sebrae.

De 2009 a setembro de 2014, foram criados 152,5 mil novos pequenos negócios no segmento.

Em 2009, o Brasil tinha cerca de 240 mil minimercados, mercearias e armazéns optantes pelo Supersimples, número que saltou para quase 390 mil em setembro de 2014. São considerados mercados de vizinhança as lojas que comercializam produtos alimentares industrializados, ou não, com até quatro caixas registradoras ou faturamento até R$ 3,6 milhões por ano.

Para o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, o crescimento desse tipo de estabelecimento se deve principalmente à formalização dos empreendimentos – graças à criação da figura do Microempreendedor Individual (MEI) – às adequações feitas no Supersimples desde sua criação e à ascensão das classes C e D, que provocaram uma mudança de comportamento do consumidor. “O modelo de loja de um minimercado proporciona ao cliente a conveniência da qual ele necessita, aliando proximidade e rapidez no atendimento. O público escolhe e compra o produto sem a necessidade de grandes deslocamentos e sem a perda de tempo em filas geralmente encontradas em supermercados e hipermercados”, afirma.

Além disso, segundo o presidente do Sebrae, a estabilização da moeda brasileira conferiu mais força ao segmento. Sem a inflação descontrolada e sem a necessidade de estocar produtos em casa, as pessoas passaram a fazer compras semanalmente, em estabelecimentos próximos às suas residências. Segundo dados do Instituto Provar, o brasileiro vai hoje cerca de 3,7 vezes ao mês a pequenas lojas de autosserviço – o que representa uma ida por semana ao ponto de venda. Antes do Plano Real, a frequência era de 1,2 visitas por mês. “Com preços semelhantes e compatíveis com os grandes supermercados, o pequeno varejista fideliza o cliente, pois estabelece um canal de comunicação diretamente com ele, conhece suas necessidades e cria uma relação de confiança com o consumidor.”, ressalta Luiz Barretto.

O segmento do varejo alimentar reúne o segundo maior número de pequenos negócios no universo do comércio (perdendo apenas para lojas de vestuário, calçados e acessórios).  Nesse contexto, os mercados de vizinhança respondem por 34,8% do volume de vendas do varejo de alimentação, segundo dados do Instituto de Pesquisas Nielsen. O Sebrae sempre teve o setor como uma área estratégica e, a partir de 2012, criou  uma carteira nacional para atender aos pequenos empresários desse segmento em todo o país, com prioridade.

Além de cursos, palestras e consultorias, a entidade estabeleceu parcerias com organizações representativas do segmento e com grandes empresas do setor para ampliar o atendimento aos empresários. O Sebrae também patrocina os principais eventos da área, onde aproveita para disseminar informações sobre o mercado e orientar os lojistas. Nas feiras voltadas para esses empreendedores, por exemplo, o Sebrae monta um estande onde ministra palestras e oferece capacitação, por meio de uma loja conceito, mostrando na prática, como deve funcionar um minimercado.

“Muitas vezes os empresários não colocam nas gôndolas as mercadorias de forma lógica e acabam misturando sabão em pó com gêneros alimentícios, em lugar de oferecer os produtos de forma associada, como café, chá e açúcar, por exemplo. Além disso, alguns empresários usam a loja como estoque e empilham produtos na área de venda, dificultando o trânsito do consumidor e a localização dos itens. A loja se torna desorganizada, o cliente fica confuso e o varejista acaba perdendo vendas”, afirma Luiz Barretto.

A capacitação dos empresários e a profissionalização do pequeno varejista é um grande desafio. “Geralmente, as lojas são pequenas e familiares, ou seja, há uma necessidade constante da presença do proprietário dentro do estabelecimento – o que dificulta o comprometimento e a presença em treinamentos, capacitações e demais ações de conhecimento”, ressalta o presidente do Sebrae.

Potencialidades

  • Localização e proximidade do consumidor
  • Conhecimento do cliente
  • Flexibilidade – ajustam melhor sortimento à demanda.
  • Baixos custos operacionais e preço competitivo em diversas categorias
  • Relacionamento próximo com funcionário
  • Conhecimento das características locais
  • Provedor de compras emergenciais
  • Oferta de serviços customizados
  • Oferta de produtos “premium” e “gourmet”
  • Estabilidade econômica favorece compras menores por consumidores

Fraquezas

  • Baixa profissionalização
  • Negócio familiar
  • Compra de pequeno volume de produtos individuais, encarecendo o valor
  • Pulverização dos pontos de vendas, dificultando o contato e a gestão da indústria.
  • Baixo poder de barganha com a indústria
  • Estoques pequenos, obrigando o varejista a trabalhar maior sortimento e monitorar com cuidado a oferta e a demanda
  • Processos de gestão pouco automatizados
  • Falta de plano de carreira no quadro funcional

Oportunidades

  • Busca crescente dos consumidores por praticidade, proximidade e comodidade
  • Crescimento e aumento da renda das classes C e D, aumentando seu poder de compra
  • Aumento do consumo por alimentos fora do lar
  • Consumo maior de alimentos orgânicos
  • Parcerias com Indústria
  • E-commerce
  • Aumento de compras via smartphones
  • Existência de produtos “âncoras” como o pão francês
  • Interesse maior pelo tema sustentabilidade
  • Compras em redes de negócios

Ameaças

  • Entrada dos grandes varejistas no segmento, que já investiram e continuam investindo em lojas no formato de vizinhança.
  • Retração do consumo em escala nacional
  • Utilização do e-commerce pelos super e hipermercados

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