O setor varejista brasileiro tem enfrentado nos últimos tempos uma grande exposição. Têm chamado atenção não somente alguns negócios, concluídos ou não, mas também mudanças de comando, tendências do próprio mercado, assim como oportunidades abertas para o crescimento.
É interessante perceber que a consolidação de determinados segmentos avançou. Setores, como os de eletroeletrônicos e de medicamentos, assistiram recentemente ao fechamento de grandes negócios, que formaram grupos fortes e representativos. Também o ramo supermercadista presenciou movimentos importantes que, se não chegaram a mudar o cenário da concorrência local, despertaram atenção por sua importância e para o interesse que vem especialmente de fora do País.
Aliás, é em razão do interesse despertado entre os players internacionais que muitas especulações têm sido lançadas no mercado. O fato é que algumas das maiores redes varejistas do mundo ainda não têm presença no Brasil, e certamente estão atentas ao crescimento e fortalecimento do nosso expressivo mercado interno.
Apesar de não termos registrado grandes movimentos, acompanhamos pela Pesquisa de Fusões e Aquisições realizada pela KPMG trimestralmente que alguns investidores de fora têm marcado presença por aqui, mesmo que a partir de aquisições de pequenas ou médias redes supermercadistas em localidades mais afastadas dos grandes centros econômicos do país.
Um fator que deve estimular a ambição dos agentes de mercado por uma presença mais significativa no Brasil é a série de estímulos ao consumo oferecidos pelo governo federal. O corte na taxa básica de juros, e o reflexo correspondente do corte dos juros oferecidos pelos bancos ao mercado, a empreitada pela redução das taxas cobradas pelos bancos públicos e privados e as desonerações tributárias têm estimulado o consumo, o que, na ponta, beneficia o setor varejista.
Alguns segmentos têm sofrido impactos negativos em razão do crescimento da inadimplência, como é o caso do varejo de veículos. Também assistimos a certa retração passageira, o que foi reflexo do momento delicado vivido pela economia global. Para alguns casos, no entanto, é notada uma movimentação importante dos consumidores, que migraram de um segmento para outro em razão da situação atual. Verificamos, por exemplo, aumento significativo no consumo de bens de segmentos, como o de eletrodomésticos, móveis e celulares.
A questão tributária deve ser lembrada. Afinal, pelo fato de estar na ponta da cadeia produtiva, o varejo acumula muitos créditos tributários, e acaba “financiando” a antecipação arrecadatória do governo. Nesse sentido, a complexidade é um dos maiores problemas a serem encarados. Não podemos esquecer os efeitos negativos provocados pela concorrência de produtos importados – legalizados, ou não. Além disso, há uma questão delicada para certos segmentos varejistas, que é a tendência de o consumidor reduzir a aquisição de bens considerados supérfluos em momentos de dificuldades.
São muitos os desafios, e tantas outras as oportunidades. É certo que, diante do cenário econômico atual, e tendo em vista o momento positivo vivido pelo mercado interno, o varejo nacional tem muito a evoluir, o que redunda na geração e consolidação de negócios. Ao final, o setor está bem, pode melhorar, mas exige ainda atenção dedicada dos gestores para que as oportunidades não se transformem em problemas.
Carlos Pires é sócio-líder de Mercados de Consumo da KPMG no Brasil.