Este Natal não deve ser de fartura absoluta para o comércio. Comparadas ao desempenho de 2010, as projeções deste ano caíram à metade. Diante da crise econômica que assombra o mundo, da desaceleração do ritmo de crescimento do país e da queda na criação de empregos, o consumidor, desconfiado, resolveu pisar no freio. Enquanto, no ano passado, as vendas aumentaram 10% no período, as previsões de 2011 são de 5%. Para não ficarem no prejuízo, os comerciantes já diminuíram o estoque.
"Outro fator que intensifica essa queda no ritmo de elevação das vendas é a menor oferta de crédito, devido às medidas do Banco Central para conter a inflação", frisou o economista Bruno Fernandes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC). O servidor público Carlos Eduardo Viana Ibrahim, 45 anos, é um dos tantos brasileiros que decidiram diminuir a lista de presentes. "Não sei se essa é uma tendência, mas falo só por mim. No ano passado minha mulher gastou cerca de R$ 3 mil com o Natal. Neste dezembro, pretendemos reduzir pela metade, R$ 1,5 mil", disse.
Ainda assim, Ibrahim não acredita em uma retração no comércio. "A economia está crescendo menos, mas ainda está bem. As pessoas ainda estão comprando. Vamos ver o que acontece", afirmou. Fernandes salienta, ainda, que o pessimismo dos lojistas também vêm do resultado obtido no Dia das Crianças. "Esta é a segunda melhor data para vendas, atrás apenas do Natal, e apresentou crescimento inferior ao esperado, de 5,2%. Este pode ser um termômetro para o fim de ano", observou.
Agrado
Talita Barbosa, gerente da loja de roupas Aventure confirmou a tendência. "Esperávamos um crescimento nas vendas, antes de dezembro, de pelo menos 20%. Com a queda, tivemos de diminuir o estoque", atestou. Para ela, o cliente está mais cauteloso. "Os compradores estão pedindo mais descontos e estão com medo de se endividar." É o caso da administradora Margareth Coutinho, 47 anos. "Costumo dar presentes para os sobrinhos, os pais e outros parentes. Mas este Natal será diferente. O agrado será apenas para as minhas filhas", lamentou.
Ela diz que não está confiante em relação à economia brasileira e, por isso, prefere não gastar muito. "Além de os produtos estarem caros, não recebemos aumentos compatíveis. Preocupo-me também com a falta de emprego. No ano passado, sentia uma segurança maior", afirmou. Fernandes destaca que, apesar da desaceleração, o desempenho continua positivo. "O ano passado foi excepcional. Já esperávamos que o resultado não se repetisse", analisou.
A Confederação Nacional de Dirigentes Logistas (CNDL) tem previsão um pouco mais otimista sobre as vendas de fim de ano, entre 6% e 7%. "Mesmo que abaixo de 2010, os números são bons. Esperamos que alguns setores, como o de eletroeletrônicos, segurem essa taxa", disse o presidente da entidade, Roque Pellizzaro. "Outro motivo para a diminuição do ritmo é a queda na demanda reprimida de bens."
Em Brasília, a perspectiva é ainda maior. "Esperamos elevação superior a 8% na capital federal, que, diferentemente de outros lugares, não apresentou redução de renda ou de postos de trabalho", esclareceu o presidente da Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Adelmir Santana.