Com vendas fracas, lojas esticam os prazos

 O comércio já testa o alongamento de prazos de pagamento de até 24 meses para impulsionar as vendas, de olho no Dia das Mães, a segunda melhor data em faturamento para o varejo. Lojistas detectaram que houve no mês passado um enfraquecimento no consumo de itens de maior valor, apesar das decisões tomadas pelo governo para ampliar a demanda, como a prorrogação do prazo do corte do IPI dos eletrodomésticos.

Se depender do consumidor, as vendas devem permanecer fracas neste trimestre. Pesquisa de intenção de compras de bens duráveis, artigos de vestuário e viagens para este trimestre feita pelo Provar em parceria com a Felisoni Consultores Associados mostra que de 13 segmentos pesquisados, em 8 deles a disposição de compras é menor neste ano em relação ao segundo trimestre de 2011. Os dados completos da pesquisa serão divulgados na quarta-feira. A enquete foi feita na cidade de São Paulo antes de os bancos oficiais anunciarem, na semana passada, o corte de até 80% nas taxas de juros ao consumidor para garantir que a economia cresça 4% este ano como o governo deseja.

Faz 30 dias que a Lojas Cem começou a enfatizar nos anúncios as prestações em 20 vezes, com juros de 4,95% ao mês. "Já tínhamos esse plano mais longo, mas percebemos que nossa imagem estava muito ligada aos planos mais curtos, em dez vezes", diz o supervisor geral da rede, José Domingos Alves.

Ele conta que o mercado se enfraqueceu nas últimas semanas, em razão do maior endividamento do consumidor. Mesmo assim, a empresa fechou o primeiro trimestre com crescimento de 15% nas vendas na comparação com o mesmo período de 2011. Para o Dia das Mães, a expectativa é de que essa taxa de crescimento se mantenha.

A Lojas Colombo alongou recentemente o prazo máximo de pagamento de 22 para 24 meses. O diretor de vendas, César Siqueira Anderson, relata que as vendas cresceram 12% no primeiro trimestre, na comparação anual. Para o segundo trimestre, que inclui o Dia das Mães, a expectativa é de crescimento entre 10% e 12% no faturamento, ante o mesmo período de 2011.

O alongamento de prazos é esporádico em outras redes. O Carrefour, por exemplo, parcela em 12 vezes sem juros a linha de eletrônicos. Mas em ações promocionais recentes chegou a esticar em até 18 e 24 vezes.

No dia 30 de março, a rede Extra decidiu parcelar em até 18 vezes sem juros no cartão próprio os produtos eletrônicos. A venda com prazos mais longos durou apenas um dia, mas o resultado foi excepcional. A receita com eletrônicos cresceu mais de 110%, com destaque para as linhas de vídeo de escritório.

Roberto Fulcherberguer, vice-presidente da Viavarejo, braço do grupo Pão de Açúcar para o setor de eletroeletrônicos que reúne as redes Casas Bahia e Ponto Frio, diz que houve um enfraquecimento do mercado. "Mas temos um plano pronto para crescer dois dígitos no Dia das Mães", afirma, sem revelar a estratégia. Ele diz que o mercado está hoje mais competitivo que no mesmo período do ano passado, e será preciso trabalhar mais para atingir as metas traçadas.

Fulcherberguer diz que o grupo não está enfatizando os prazos mais longos para atrair o consumidor. Mas ontem, a rede Ponto Frio fez uma promoção de um dia de venda parcelada em 18 vezes, sem acréscimo, no cartão.

Pressão. O aumento dos prazos de financiamento ainda não foi captado pelo pesquisa sobre as condições do crédito feita mensalmente pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac). Mas, segundo o vice-presidente da entidade, Miguel Ribeiro de Oliveira, as lojas estão pressionando os bancos, que financiam as vendas, para ampliar os prazos porque o ritmo do crescimento do consumo está aquém do esperado.

Ribeiro de Oliveira explica que os bancos estão segurando a expansão dos prazos por causa do alta da inadimplência, que ampliou o risco de crédito. Segundo ele, as promoções relâmpago de um dia de alongamento de prazo estão sendo bancadas com recursos das próprias lojas.

"O poder de compra da renda do brasileiro cresceu mais pelo prazo de financiamento", diz o vice-presidente de Novos Negócios da Samsung, Benjamin Sicsu. Ele observa que os prazos de 10 e 12 vezes no varejo foram esticados para 18 prestações nos últimos tempos para reverter a perda de ímpeto do consumo. Segundo o executivo, o brasileiro quer comprar eletrônicos de maior valor e, em 18 prestações, pois a parcela "cabe no bolso".

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