Microusina é oportunidade de investimento para empresas pequenas

Foto: Luiz Cesar, sócio-fundador da Enersud, fabricante com o maior número de sistemas eólicos de pequeno porte instalados no País

A geração distribuída a partir de mini e microusinas eólicas ou fotovoltaicas é um dos caminhos mais certeiros para se chegar a uma matriz plenamente renovável e menos dependente das chuvas. “A microgeração é a coisa mais racional que existe, fonte de geração próxima da unidade consumidora”, afirma Mauro Passos, presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal).

Isso porque elimina as perdas que ocorrem principalmente na transmissão e distribuição, índice em torno de 15% do total de eletricidade produzida, conforme dados do capa Ministério de Minas e Energia (MME). E, além de diminuir – ou até mesmo dispensar – o consumo da energia fornecida pelos distribuidores, a eletricidade gerada por este modelo e não utilizada é absorvida pela rede oficial, gerando créditos que podem inclusive ser abatidos em outra conta do mesmo titular.

“A gente acredita que o Brasil tenha esse protagonismo no mundo e que possa ter menos dependência das hidrelétricas”, diz Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace Brasil. O Energy Outlook, estudo realizado pela Bloomberg New Energy Finance, prevê que até 2040 sejam aplicados US$ 93 bilhões na área de geração distribuída.

Conforme o relatório, isso mostra conformidade com a tendência mundial de instalação de sistemas fotovoltaicos nos telhados de casas e em edifícios residenciais e comerciais, o que pode se transformar em um ótimo negócio.

Segundo Passos, há um nicho crescente para micro, pequenas e médias empresas, na área de engenharia e infraestrutura e, principalmente, no segmento de microgeração, tanto no desenvolvimento de projetos e instalação quanto na fabricação de produtos. Dados do Ministério de Minas e Energia apontam que a cada megawatt de energia eólica implantado no País são criados 15 novos postos de trabalho.

“Este tipo de sucesso nós queremos repetir em outras fontes renováveis que terão cada vez mais a nossa atenção, inclusive a energia solar fotovoltaica. Em breve, as distribuidoras de energia serão parceiras de nossos clientes em projetos de geração distribuída e de  microgeração”, afirma o ministro Eduardo Braga.

Instalada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade de Campinas (Incamp), a Solstício Energia é um dos empreendimentos que investem neste novo e promissor nicho. Os engenheiros Bruno Lima e Gilberto Ivamoto vislumbraram o potencial do negócio ainda no último ano de universidade, em 2009, quando o preço de componentes de sistemas fotovoltaicos começou a ter uma redução significativa, e ao ser regulamentada a microgeração, em 2012, fundaram a empresa.

Passados três anos, eles comentam que jamais cogitaram que o preço da tarifa de energia no Brasil subisse tanto e tão rapidamente, o que torna os sistemas fotovoltaicos ainda mais atraentes – atualmente a Solstício vende um conjunto destes por semana, na maioria para clientes residenciais. Segundo Lima, investir em um sistema fotovoltaico dá um retorno maior do que aplicar em fundos de renda fixa. Agora a meta é se consolidar como a principal empresa do ramo até 2020.

De acordo com Lima, existem pouco mais de 700 microusinas fotovoltaicas no Brasil, e o potencial de crescimento dessa energia é grande. De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a microgeração fotovoltaica pode suprir 2,3 % do consumo residencial. “O que falta para esse mercado crescer e produzir tanto quanto em países mais avançados no setor são incentivos governamentais. A principal carência é de financiamentos específicos com prazos de pagamento e taxas de juros compatíveis com a tecnologia, que tem uma vida útil superior a 25 anos”, diz Lima

Como alternativa, a Solstício está em negociação com bancos para oferecer uma solução financeira que facilite a aquisição dos produtos. Em Santa Catarina, a Celesc, por meio do seu programa de Eficiência Energética, destinará R$ 30 milhões para projetos de mini ou microgeração distribuída.

Alguns pontos específicos da regulação também precisam ser aperfeiçoados, acrescenta Lima, como o processo de aprovação da conexão pela distribuidora e também algumas questões tributárias, entre elas a incidência do ICMS para a energia injetada na rede, que ainda é cobrada na maioria dos estados.

O Ministério de Minas e Energia, que declara ter como objetivo baratear o custo do investimento para a geração fotovoltaica pelos consumidores finais, tem apoiado iniciativas de redução do ICMS no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ). O MME ainda defende que sejam debatidos, no âmbito do governo federal, outros estímulos tributários adicionais, como, por exemplo, a desoneração de PIS e da Cofins.

Uma das pioneiras do Brasil na área de microgeração eólica, a Enersud também sente falta de estímulos governamentais para a área. Quando a empresa começou, em 2001, a perspectiva do segmento no País era muito promissora: energia eólica e solar não passavam de curiosidade de laboratório.

Hoje é a fabricante com o maior número de sistemas eólicos de pequeno porte instalados no País, fornecendo soluções para mais de 500 clientes, entre consumidores residenciais e rurais, empresas de telecomunicações e indústrias. Entretanto, a Enersud segue com a mesma esperança de quando começou, ver colocado em prática algum programa para estimular o consumo de energias renováveis.

Segundo o sócio-fundador, Luiz Cezar, o mercado de pequenas turbinas eólicas avança pouco a pouco. “Esperamos que aconteça no Brasil o mesmo que aconteceu em outros países que conseguiram fazer uma inflexão na demanda de turbinas pequenas”, afirma. A planta fabril da empresa, de acordo com Luiz Cezar, está preparada para atender ao crescimento previsto para o mercado de fontes alternativas de energia de pequeno porte no Brasil. “A Enersud é detentora do conhecimento tecnológico para a produção e aprimoramento de equipamentos para geração de energia eólica, contando com laboratórios de máquinas elétricas, processos térmicos e túnel de vento”, relata. Além disso, mantém parcerias com universidades e centros de pesquisas distribuídos por todo o Brasil.

Com o aumento progressivo do custo da energia, Luiz Cezar destaca que a Enersud, posicionada como uma empresa de soluções energéticas que desenvolve alternadores e turbinas eólicas, planeja expandir cada vez mais, impulsionada também pela combinação da tendência mundial de limpar a matriz energética e do amadurecimento de tecnologia nessa área. “É um desafio, mas temos que pensar no planejamento de uma matriz favorável e limpa. A disseminação do conhecimento sobre a proposta deve ser mais intensa para alcançar toda a população”, afirma Ricardo Baitelo.

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