Resíduo de peixe gera renda para artesãs baianas

Elas são apenas três formando a associação, mas o trabalho dessas mulheres vem abrindo um mercado criativo no setor de artesanato cada dia mais ativo na vida do município baiano de Paulo Afonso. A matéria-prima utilizada por elas é retirada da pele da tilápia, peixe cultivado na região do rio São Francisco. Ao invés de ser descartada no lixo, a pele do peixe é reaproveitada na criação das peças de artesanato, como capas de agendas e bolsas.

A ideia de reaproveitar a pele da tilápia em artesanato veio de Maria Regina Soares, 48 anos. Antes disso, ela trabalhava com artesanato variado, identificando o seu lado empreendedor. Tanto assim que criou uma loja de artesanato, com o biscuit e bordados, adotando técnicas de decupagem e reciclagem, utilizando garrafas pet, lacres de latinha, papelão e caixas de leite, que eram transformados em pufs, bolsas e lembranças do turismo. Com a parceria da mãe Maria Francisca de Jesus, 77 anos, e a amiga Antônia Elza Santos Lacerda, 55 anos, criou a Associação do Grupo de Artesãos Produtores de Paulo Afonso (Agappa).

Três anos depois, um primo que estudava Engenharia de Pesca repassou a Regina uma apostila sobre  o beneficiamento da pele da tilápia, para que ela ampliasse melhor a visão empreendedora. “Tentei fazer sozinha e não consegui. Resolvi então procurar os profissionais que mantinham um curso de capacitação sobre a pele da tilápia e aprendi todo o passo a passo de produção e consegui chegar ao ponto certo”, conta ela.

Reaproveitar a pele do peixe se tornou um projeto da associação e Regina entrou em contato com uma empresa do município de Paulo Afonso que trabalha com a tilápia e jogava a pele fora. “Mostrei interesse em conseguir a doação das peles. Oficializei tudo e comecei a receber a matéria-prima. Hoje a Agappa recebe da empresa, a cada três meses, cerca de 150 kg de pele já sem escama”, explica.

Ao ver que o trabalho estava dando certo, Regina buscou a qualificação de seu trabalho para aprimorar as peças de artesanato. Participou de cursos de capacitação, em que aprendeu a técnica de curtimento da pele da tilápia e o manuseio de peças e artefatos em couro. No segmento de design das peças teve apoio do Sebrae na Bahia, com orientações valiosas da consultoria técnica, além de participar do curso Formação de Preço, para entender o processo de cotação dos produtos confeccionados e atendimento ao cliente. “Não é só comercializar, mas mostrar ao público da região e fora dela o trabalho que é produzido por nós aqui, em Paulo Afonso”, ressalta.

Segundo a artesã, a comercialização dos produtos é mais dinâmica durante os meses de dezembro e janeiro, quando há maior fluxo de visitantes em Paulo Afonso, mas, nas férias escolares de julho, também é registrado bom movimento. “O trabalho é manual e demorado, mas sempre nos planejamos para que não falte o produto nesses períodos”, diz ela, acrescentando que há certa aceitação do produto com o público regional. “Mas a curiosidade é mais dos turistas”, completa Regina.

Produção

Por meio do Sebrae, a Agappa participa – com amostragem de seus produtos – de eventos em várias cidades, como a Feira do Empreendedor, o Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca e o Seminário de Economia Criativa. A produção também atende eventos gastronômicos, a exemplo do Qualitilápia. “No ano passado, ganhamos o troféu do campeonato que aconteceu durante a Copa Vela, quando confeccionamos um barco a vela com couro da tilápia”, lembra, com orgulho.

Regina ainda participa do projeto Economia Criativa do Sebrae e uma das estratégias é agregar valor aos produtos da Agappa, com foco na produção associada ao turismo. “Isso promove a cadeia produtiva do turismo local ao artesanato e à gastronomia, sendo na prática, um diferencial competitivo para Paulo Afonso e região”, afirma a analista do Sebrae na Bahia, Nadja Monteiro.

Segundo ela, a produção regional da tilápia está na casa das 500 toneladas por mês e representa grande fonte de insumos para gerar mais ocupação e renda às famílias no semiárido baiano. “A atividade garante a sustentabilidade, com o reaproveitamento da pele da tilápia”, finaliza.

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