O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou hoje que a expansão do consumo interno é importante, mas deveria ser inferior à taxa de 7% verificada nos últimos anos. Ela deveria se estabilizar em torno de 6,5%, defendeu ele, durante o Fórum CPFL Energia – Crise Financeira Internacional e Crescimento da Economia Brasileira, em São Paulo.
Coutinho alertou que o Brasil não pode esquecer a lição do passado e precisa ter como objetivo o aumento firme da poupança doméstica. "A poupança externa é bem-vinda mas não podemos nos esquecer da relevância da (poupança) doméstica", afirmou.
Juros
Coutinho afirmou que o processo de elevação da taxa básica de juros, a Selic, iniciado pelo Banco Central em abril deste ano, é importante para conter as expectativas inflacionárias em meio a um choque internacional de matérias-primas (commodities), como petróleo, alimentos e minerais. Ele disse que o movimento de elevação da Selic, atualmente em 12,25% ao ano, não deve provocar danos à velocidade de expansão dos investimentos no País. "Acredito que a velocidade de expansão dos investimentos no Brasil devem continuar duas vezes superiores ao registrado pelo PIB no médio prazo".
No entanto, o presidente do BNDES, acredita que a alta de juros deve desacelerar o ritmo de crescimento da concessão de crédito, o que seria salutar na sua avaliação. "Hoje a expansão de crédito atinge um patamar entre 30% e 32% e seria mais adequado que reduzisse para um ritmo na faixa de expansão de 20% ao ano".
Balanço de pagamentos
O presidente do BNDES afirmou que não há risco de o Brasil enfrentar dificuldades para o financiamento do balanço de pagamentos no horizonte de dois a três anos. "O Brasil apresenta uma das fronteiras mais robustas de investimentos no mundo. O investimento estrangeiro direto é um dos mecanismos mais importantes que deve continuar colaborando no longo prazo para a sustentação adequada do financiamento do balanço de pagamentos", disse.
Coutinho avalia que o Brasil pode enfrentar um déficit de transações correntes moderado nos próximos anos, mas o País continuará recebendo o ingresso firme de investimentos estrangeiros diretos.
Sobre a possibilidade de o Brasil enfrentar, no médio prazo, déficit comercial, Coutinho não manifestou um alto nível de preocupação. Para o presidente do BNDES, se tal fenômeno for registrado, isso poderá ser resultante de alguns fatores. Uma parcela desse eventual déficit poderia refletir um aumento das importações para fins de expansão dos investimentos das empresas, sobretudo bens de capital (máquinas e equipamentos), o que é importante para sustentação do desenvolvimento do País. Um outro fator é a taxa de câmbio.