Bianca Fraga trabalha há 12 anos com gestão e marketing no mercado gastronômico. Já foi estagiária, teve um bar e hoje faz consultoria em centenas de restaurantes no Brasil e em outros países. Ao falar dos desafios em empreender, ressalta que as mulheres ainda precisam reforçar suas habilidades. “A sensação que eu tenho é que preciso ser duas vezes mais competente que um homem, por exemplo”, comenta. Confira a entrevista.
Como você começou a trabalhar no mercado gastronômico?
Eu fazia faculdade de Administração e na época estagiava na Diretoria Tributária de uma multinacional, mas estava muito infeliz. Era muito burocrático, chato… Não tinha espaço pra criar nada. Então depois de alguns meses larguei e pedi um estágio voluntário no Aconchego Carioca, aqui na Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro.
Passei meses lá aprendendo tudo sobre gestão, finanças, trabalhei como garçonete, fiz fila, ajudei limpando mesa, passei realmente a viver e respirar restaurante. Me apaixonei pela dinâmica e decidir me especializar.
E como foi ter a experiência de ter o próprio bar?
Acredito muito que o Urbanito mudou a minha vida. Uma coisa é aprender na teoria nos cursos, faculdade, especializações, outra coisa é viver na prática o dia a dia do negócio sendo seu. Hoje, tudo que eu ensino, eu já apliquei no meu bar e avaliei o processo.
O seu bar tinha algum apelo para o público feminino?
Sim, tanto a clientela quanto em termos de equipe de funcionários. Eu sempre preferi trabalhar com mulheres e dava preferência na contratação de mulheres, principalmente para os cargos de chefia. Aliás, é assim até hoje, na minha consultoria todas as líderes de área são mulheres. Ficávamos muito no público feminino também. Criamos um espaço seguro, em que você com certeza não iria sofrer nenhum assédio. Nunca tivemos nenhum caso lá.
O que exatamente você faz hoje?
Hoje trabalho como consultora e mentora de centenas de restaurantes, pelo Brasil e pelo mundo. Sou obcecada por metas e métricas, então conseguimos criar processos para avaliar cada grama de cada prato do restaurante. Além disso, trabalhamos ajudando no marketing gastronômico também, na parte de criação de conteúdo para as redes sociais, fotos, design, etc.
Quais são os obstáculos de empreender sendo mulher?
Hoje trabalhando como consultora, a sensação que eu tenho é que preciso ser duas vezes mais competente que um homem, por exemplo. Quando tinha meu bar, já passei por diversas situações em que um fornecedor pedia pra conversar com o dono, e quando eu falava que era eu, gerava um espanto. Apesar do Brasil ser o 7º país no ranking mundial de mulheres empresárias, os obstáculos ainda nos perseguem todos os dias. Em termos mais burocráticos, ainda falta incentivo aos pequenos e médios empreendedores, que representam em torno de 30% do PIB nacional. Faltam empréstimos a juros mais baixos, desconto em impostos e incentivos para que as empresas sejam mais responsáveis em termos de sustentabilidade.