Por Leonardo Barém Leite
O fenômeno ESG, que congrega governança corporativa, meio ambiente e direitos humanos (social), finalmente conquistou o seu lugar nos contextos empresariais e sociais ao redor do globo, deixando de ser um diferencial abraçado por poucos. Trata-se, agora, de um sinônimo de sustentabilidade geral, com abrangência maior (ou seja, em todas as dimensões).
O conceito já foi absorvido, mas agora entramos na questão “Por onde começar?”. A melhor resposta é que se deve começar pelo que for possível. Passo a passo para gerar a evolução do modelo de negócios.
Se até meados da década passada o conceito ESG estava um tanto restrito a alguns segmentos do mercado e modelos “think tank” – sendo adotado apenas pelos empresários mais conscientes – hoje, a cobertura da mídia e a abordagem do conceito nos mais diversos encontros corporativos asseguram que é assunto e responsabilidade de todos. O Planeta não aguenta mais e temos que agir agora!
Queremos campeões nacionais e internacionais que realmente cuidem das pessoas e do meio ambiente. Que se preocupem com queimadas e desmatamentos, com a origem dos insumos, bem como com a utilização consciente de recursos em geral. Precisamos de processos que usem menos água e energia, que protejam as comunidades e gerem menos resíduos, e que não mais se escondam atrás de artifícios como a terceirização (ou quarteirização) irresponsável.
O antigo discurso promotor de repasse de responsabilidade a terceiros ficou no passado. Agora, as empresas precisam se responsabilizar por toda a cadeia produtiva, garantindo que regras de compliance e boas práticas de governança corporativa sejam cumpridas.
Nesse sentido, a governança e o compliance ganham cada vez mais força, tanto por demonstrarem que o certo é o certo (mesmo que aparentemente custe mais), quanto pelo aumento da fiscalização da sociedade em geral, representada, também, pelos funcionários, terceirizados, parceiros e consumidores. O cenário transformou o que era “prêmio” ou “puro marketing”, em obrigação.
Empresas que ainda trabalham no velho estilo, aquele que ignorava a sustentabilidade, já têm dificuldades para atrair talentos, bem como para conseguir parceiros que aceitem se relacionar com marcas sem foco social ou ambiental. Dia a dia e rapidamente, essas organizações perdem mercado e fontes de financiamento.
Todos os dias mais e mais empresas e executivos percebem que não podem deixar de incluir a mentalidade coletiva em suas operações, pois precisam pensar em todos os campos, aspectos e públicos com os quais se relacionam.
Investidores, colaboradores, parceiros, consumidores e a sociedade em geral estão “de olho” nas práticas empresariais e avaliando o conjunto. O mundo acordou e já não aceita a justificativa do lucro “a qualquer custo” e nem a visão absurdamente curta dos resultados financeiros. Olhar que já se destaca em reuniões de Conselhos de Administração e diretorias.
A maneira de lidar com o tema, porém, ainda confunde algumas empresas, que na ilusão de haver um caminho isolado, prometem criar “Comitês ESG”, tratando-o como algo à parte da operação. Ou seja, não incluem as práticas no centro das decisões – afastamento que custará muito caro a quem demorar a rever os seus conceitos mais básicos.
Ainda que o mercado esteja criando rankings e indicadores, e países se movimentem para criar legislações indutoras de práticas que levem a um cuidado maior com o tema ESG, acreditamos que o primeiro passo seja uma avaliação profunda e verdadeira sobre o que cada empresa pode fazer para começar.
Em muitos casos, a mera inclusão de aspectos de efetiva sustentabilidade nas metas das empresas, e de seus principais executivos, já será um lindo incentivo para que todos passem a entender que não podem pensar em aspectos puramente financeiros para decidir. E que critérios para as bonificações precisam considerar os investimentos, e as escolhas realizadas para a conquista dos resultados.
A busca pela perfeição pode gerar uma certa paralisia, uma demora injustificada, na adoção da mentalidade ESG e a preocupação geral com os seus fundamentos, e nesses casos recomendamos que não caiam nessa armadilha – e, simplesmente, comecem. Basta olhar para os métodos e processos da organização para avaliar se as decisões e os investimentos estão apoiados nas melhores práticas e se buscam a sustentabilidade. Para esta avaliação, é importante contar também com os parceiros, consultores, fornecedores, os integrantes diretos ou indiretos do seu negócio. Essa batalha é de todos!
*Leonardo Barém Leite é sócio do escritório Almeida Advogados e especialista em Societário, M&A, Governança Corporativa, ESG, Compliance e Direito Corporativo.