O acesso ao financiamento leva às pessoas e às microempresas fôlego para enfrentar momentos de crise ou investir na expansão de um negócio
Por Carlos Eduardo Navarro Ribeiro ( destaque na foto)
O direito ao crédito é fundamental para que o cidadão e as microempresas possam enfrentar momentos de dificuldade financeiras, montar seu primeiro negócio ou até mesmo investir no crescimento de sua atividade atual. Mas, na prática, o acesso da população de classes C, D, E e dos microempreendedores a financiamento no Brasil é muito restrito.
Segundo dados do Relatório de Cidadania Financeira 2021, realizado pelo Banco Central, no começo de 2021 o saldo de crédito para a população de baixa renda era de R$ 258 bilhões. Já para a população de renda média chegava a R$ 914 bilhões. Enquanto o saldo de crédito acumulado pelos 10% da população de renda alta chegava a R$ 1 trilhão, cerca de quatro vezes a carteira da faixa de menor renda.
O mesmo relatório do BC também mostra que em 2020, mais de 60% dos microempreendedores individuais (MEIs) que procuraram crédito para quitar dívidas ou investir em seu negócio ouviram um “não” como resposta das instituições financeiras procuradas.
Se por um lado é urgente ampliar a oferta de opções de crédito para as camadas menos favorecidas, por outro, é imprescindível investir no chamado microcrédito consciente. Caso contrário, as pessoas e pequenas empresas atingem níveis de comprometimento de renda e endividamento que superam o que é financeiramente gerenciável. O resultado: inadimplência.
De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o índice de brasileiros endividados atingiu um número recorde, superando 76% em dezembro de 2021, com 25,2% de brasileiros com dívidas em atraso.
Nesse cenário, a educação financeira e o microcrédito consciente são fundamentais para que a população com menor renda e os microempreendores possam, de um lado, ter o crédito que tanto necessitam para superar momentos de crise e, do outro, usarem com sabedoria esse financiamento, para que não caiam na inadimplência e tenham o “nome sujo na praça”.
E o que é exatamente o microcrédito consciente? O microcrédito consiste em levar financiamento para as pessoas ou microsetores que não têm acesso a outras formas tradicionais de crédito. Esses valores permitem o uso de recursos no presente, com pagamento parcelado em geral em prazos que vão de um a quatro anos. E o microcrédito consciente é o uso desse financiamento de forma sustentável.
Nesse sentido, a educação financeira deve ser promovida tanto pelo setor público como pela iniciativa privada, esclarecendo principalmente as dúvidas da população de menor renda, que não está acostumada a lidar com juros ou mesmo com a tecnologia, impulsionada nos últimos anos pelo crescimento dos bancos digitais.
O Banco Central, por exemplo, oferece um site dedicado à chamada cidadania financeira (exercício de direitos e deveres que permite ao cidadão gerenciar bem seus recursos financeiros), com conteúdo em vídeo e em texto para quem pensa em pedir um empréstimo, está endividado ou quer limpar seu nome, além de dicas sobre como usar melhor seu dinheiro e até para ensinar as crianças e jovens a lidarem com as finanças.
Já o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), além de conteúdo, traz cursos on-line gratuitos sobre o tema, com aulas sobre planejamento, noções de empresa e mercado, microcrédito produtivo orientado, capital de giro e fluxo de caixa, entre outros, com foco nas microempresas e microempreendedores.
O acesso ao crédito é fundamental em situações de emergência e em momentos de investimento, mas é essencial que o usuário de serviços financeiros saiba muito bem o que está contratando e quanto pagará por eles.
*Carlos Eduardo Navarro Ribeiro é CEO da Crefaz, empresa fundada em 2013 com o objetivo de oferecer crédito a um público não assistido pelas instituições financeiras tradicionais