José Roberto Securato Junior

No início de setembro, o mercado financeiro estremeceu quando a agência de classificação de riscos Standard & Poor’s retirou o selo de bom pagador do Brasil, depois do governo brasileiro anunciar o cenário fiscal para 2016, incluindo projeção de déficit primário.

Segundo o Banco Central, isso ajudou a agravar a piora da projeção do PIB em 2015. A expectativa é que o resultado do Produto Interno Bruto chegue a -2,55% até o fim do ano e a inflação registre alta de 9,28%. Para o dólar, a perspectiva é que a moeda americana fique em R$ 3,70 enquanto a Selic se mantenha em 14,25% até 2016.

Mas, afinal, o que este rebaixamento de nota pode acarretar aos empreendedores brasileiros? Na entrevista a seguir, José Roberto Securato Junior, diretor da Saint Paul Advisors e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR), fala quais segmentos de mercado serão mais afetados por este novo cenário econômico.

-O que significa exatamente esse rebaixamento de nota para a economia brasileira?

José Roberto Securato Junior – O rebaixamento no “grau de investimento” significa que diversos investidores estão restritos de investir no Brasil e alguns terão que vender seus ativos aqui. Além de ter menos fundos para financiar nossas atividades e nosso crescimento, a dívida do governo brasileiro e de nossas empresas ficou mais cara. A segunda derivada é a desvalorização da moeda.

-Na sua opinião, quais fatores foram determinantes para esta situação?

JRSJ – Duas coisas: a competitividade do Brasil e a incerteza em relação ao nosso mercado. A instabilidade política gera incertezas que resultam em percepção de risco mais alta e esta mesma fragilidade política não nos permite fazer as reformas que nos tornariam mais competitivos.

-Quais setores/segmentos do mercado serão mais afetados por este rebaixamento?

JRSJ – Todos os setores que dependem de investimentos externos e todas as empresas que financiam suas atividades no exterior.

-E para os pequenos e micro empresários, quais impactos essa situação pode ter nos negócios?  E como o rebaixamento pode afetar os varejistas especificamente?

JRSJ – Para os pequenos e micros, o problema não é tanto o rebaixamento em si, mas os mesmos fatores que causaram o rebaixamento. As dificuldades da economia, as incertezas quanto ao mercado, quanto às ações do governo e as medidas para conter o aumento do desemprego afetam o pequeno e micro empresário diariamente. Essas dificuldades são refletidas no rebaixamento do Brasil, portanto o rebaixamento em si é consequência, não causa. O mesmo se aplica aos varejistas.

– Quais as expectativas de recuperação da economia brasileira? O que os empresários podem esperar a curto e médio prazo?

JRSJ – A crise política precisa ser resolvida, até que isso aconteça, estaremos vulneráveis e com muita incerteza. No curto e médio prazo, temos que sobreviver às incertezas e aproveitar o período para racionalizar a sua operação. Estamos na era do “fazer mais com menos” com a esperança de estarmos bem posicionados para quando as coisas forem resolvidas.

– Por fim, quais conselhos você daria para os pequenos empresários brasileiros que estão temerosos com a atual situação econômica do Brasil?

JRSJ – Antes de qualquer coisa, levante a cabeça. O problema atual é mais político do que econômico. Faça os ajustes que precisar fazer, reduza sua estrutura para refletir a atividade econômica atual, pois, no pior dos casos, este cenário pode perdurar até as próximas eleições presidenciais. Aproveite o momento para revisar as suas operações e ganhar eficiência, invista principalmente no treinamento dos seus funcionários e promova o fortalecimento da sua cultura organizacional. Estes ajustes trarão um retorno enorme no médio e longo prazo, e os posicionarão para o sucesso no final da jornada.

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