A Dudalina, marca masculina que se tornou famosa pelas camisas de alta qualidade e estilo, estreou na moda feminina ofertando também camisas “para mulheres que decidem”, conforme diz o slogan. A entrada da marca no mercado feminino e outros direcionamentos mais humanizados executados pela empresa refletem a gestão da presidente, Sônia Hess, sexta filha do casal seu Duda e dona Adelina, fundadores da Dudalina. Mesmo com 11 irmãos homens, é Sônia Hess quem está à frente da presidência da empresa, desde 2003. Isso por causa da grande influência de dona Adelina que, de fato, era a empreendedora da família e tinha o lema “Trabalhe, trabalhe e trabalhe”. Lema que Sônia executa em sua vida desde pequena. Sob o seu comando, a Dudalina passou pelos últimos 11 anos intensificando as ações de responsabilidade social e focando os investimentos no desenvolvimento das pessoas.
Deixar um legado que valorize as relações humanizadas, cuidar do meio ambiente em que se vive e dar atenção às questões sociais, incentivando as pessoas a se desenvolverem. Esses propósitos são a principal causa pela qual trabalha Sônia diariamente na Dudalina, fazendo jus a outro slogan da marca “Amor à camisa e às pessoas”. Sônia afirma que o slogan não pode ser da boca para fora, por isso coloca em prática uma gestão participativa, convidando todos os colaboradores a trabalharem ativamente para manter o êxito da empresa construída pelo seus pais. O esforço dos funcionários é recompensado, através da divisão do lucro. “Assim, eles sentem que estão construindo juntos”, afirma Sônia.
A questão ambiental e social também é tratada pela Dudalina com muita seriedade. A empresa contribui para mais de 500 organizações não governamentais (ongs). E entre as ações praticadas, destacam-se o trabalho de capacitar mulheres para criar trabalhos artesanais manuais, usando resíduos têxteis, o auxílio a creches no município de Presidente Getúlio, a manutenção de praças em Blumenau e o apoio para institutos que promovem a cultura e o esporte, como o Instituto Ayrton Senna. “Sempre buscamos estar atentos ao que se pode construir pelo outro, construindo amor através do que fazemos”, define Sônia.
A atenção também estava voltada ao mercado quando, em 2010, a empresa lançou a Dudalina Feminina. As operações no varejo tiveram grande sucesso, impulsionadas pela abertura de 30 lojas, próprias e franquias, da versão feminina da marca. A empresária conta que antes de lançar a Dudalina Feminina, ela estava atenta observando as oportunidades e afirma ainda que no mundo do empreendedorismo, todo negócio é um risco, porém esse risco deve ser avaliado, pensado e planejado. “Nunca corra um risco bobamente e sempre tenha bom senso”, ensina.
Entre os ensinamentos que dona Adelina deixou, Sônia conta que leva com ela até hoje a frase “O não eu já tenho, estou à procura do sim”. Além disso, Sônia comenta que nasceu em uma família empreendedora na qual a lição estava dentro de casa, então o instinto para empreender foi natural para ela. “Estava pronta e sempre aceitei desafios, por isso estou aqui”, destaca.
Mas Sônia conta que nem sempre foi assim. Aos 13 anos de idade, quando a família se mudou de Luís Alves para Blumenau, ela foi estudar em um colégio da elite na cidade, e era chamada pejorativamente de “colona” por outros estudantes. Para ela, na época, esse tipo de preconceito doeu muito e foi nesse momento que ela decidiu não ouvir mais isso e lutar para ser diferente. A vida segue e Sônia faz parte da equipe de trabalho da loja administrada pela dona Adelina em Balneário Camboriú (SC).
Mais tarde, o irmão mais velho de Sônia viaja para Espanha para comprar uma nova tecnologia de confecção têxtil. E por causa disso precisa enviar alguém à Espanha para aprender a usar essa tecnologia. Entre tantos irmãos, o nome de Sônia não foi mencionado para fazer a viagem, mas ela se coloca à disposição para cumprir a missão, mesmo sem falar nada de espanhol e sem ter dom nenhum para costurar. Depois de dois dias na Espanha, ela se viu obrigada a aprender a costurar. “Naquela época, não tinha como voltar para casa, não dava para chorar. A minha única opção era enfrentar”, lembra. Assim, conseguiu aprender a metologia para costurar. E como ela tenta explicar: sabe ensinar a costurar, mas não costurar de fato.
O desafio superado na Espanha fez Sônia voltar, em 1969, mais forte e com mais experiência para reabrir a fábrica da Dudalina em Luís Alves, em 1975. Mas, aos 21 anos, com todas as costureiras da fábrica treinadas por Sônia, ela sentiu novamente que precisava buscar algo novo. Então, aceitou um convite para ser instrutora chefe de uma equipe grande de costureiras em uma empresa têxtil de Montes Claros (MG). Passou um ano na cidade e depois se mudou para Belo Horizonte para trabalhar na área comercial, onde permaneceu por dois anos. No final de 1983, o lado sonhador e empreendedor de Sônia chamou-a para viver em São Paulo, mesmo sem emprego e sem contatos na grande metropóle. Quando os irmãos mais velhos souberam da decisão de Sônia, deram a ideia de montar a estrutura comercial da Dudalina na cidade. E, dessa forma aconteceu, e assim a empresária começou a desenvolver suas habilidades para o marketing, desenvolvimento de produto, de matéria-prima e outros setores estratégicos da empresa. Sua vida, nessa época, era de idas e vindas entre Blumenau e São Paulo.
No final de 2002, seu irmão Armando Hess que era presidente da empresa foi convidado para compor uma das secretarias do governo de Santa Catarina. Dessa maneira, Sônia é indicada pelo conselho para ser presidente da Dudalina. “Não estava preparada, mas tinha uma equipe maravilhosa que podia contar”, relembra. Sônia destaca que quando a presidência da empresa estava em suas mãos ela realmente entendeu o verdadeiro significado do que é “correr riscos” nos negócios. E, desde 2010, quando um dos irmãos de Sônia saiu da direção da empresa, ela conta que se sentiu mais livre para ser a empreendedora que ela relamente é. “Mas sempre com o apoio do conselho”, enfatiza. Assim, Sônia se sentiu encorajada para arriscar partindo de uma empresa masculina que faz roupas para homens para lançar uma marca de camisas femininas.
A ideia de Sônia, no começo, não foi facilmente apoiada. Ela ouviu muitas opiniões contrárias dos acionistas da empresa. Entretanto, como de costume enfrentou tudo e defendeu sua nova estratégia para o negócio. No fim, o resultado foi altamente positivo. E o sonho continuou. Sônia planejava transformar o escritório da Dudalina em São Paulo em uma loja de destino dos clientes, não de passagem. Na cabeça de Sônia, os clientes que fossem visitar a loja tinham que sentir toda a magia que a Dudalina pode oferecer. Esta primeira loja conceito, então, foi o embrião de outras lojas conceito que surgiram, demonstrando e reafirmando o tino apurado de Sônia para os negócios.
Instinto, esse, que foi desenvolvido e moldado pelo exemplo da mãe, dona Adelina que foi a grande empreendedora da família, conforme Sônia gosta de afirmar. E como lição de empreendedorismo, Sônia ainda acrescenta que quando pensa em algum projeto, alguma ideia, ela gosta de imaginar e sentir tudo já pronto, para depois voltar à realidade e trabalhar para concretizar, assim como bem ensinou dona Adelina.
LINHA DO TEMPO:
– 1947: Adelina se casa com Duda na cidade de Luís Alves, interior de Santa Catarina
– 1953: o casal compra a loja de secos e molhados dos pais de Adelina
– 1965: o casal adquire duas lojas em Balneário Camboriú (SC). Em uma das lojas o atendimento era feito por Duda e os filhos e, na outra, por Adelina e as filhas
– 1969: Adelina e Duda mudam-se para Blumenau e inauguram uma nova sede da empresa
RAIO-X DUDALINA:
Data de fundação: 1957
Cidade-sede: Luís Alves (SC)
Ramo: Têxtil / moda
Empregados: 2.500