por Monica Pupo (monica@empreendedor.com.br)
Conduzida pela Endeavor em 2012, a pesquisa “Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras” mostrou que 60% dos universitários brasileiros pensam em abrir um negócio no futuro. No entanto, o estudo também observa que, embora muitos estudantes pensem em ser empreendedores no futuro, poucos se preparam para abrir um negócio: mais de 55% dos potenciais empreendedores nunca cursaram uma disciplina ligada ao empreendedorismo. Não por acaso, a falta de conhecimentos sobre gestão está entre os principais entraves à abertura de novos negócios.
Para solucionar o problema, uma das alternativas mais eficazes consiste em estimular a educação empreendedora dentro das universidades. É o que faz o “Bota pra Fazer”, plataforma de capacitação empreendedora aplicada em universidades de todo o País pela Endeavor, organização sem fins lucrativos de fomento à cultura do empreendedorismo. Prestes a ser implantado em Santa Catarina, através de uma parceria com o Sebrae, o programa tem como objetivo ensinar os universitários a detectar oportunidades de criar seu próprio negócio de forma inovadora.
Com duração de um ano, o curso utiliza a metodologia FastTrac desenvolvida pela Fundação Kauffman, organização norte-americana especializada em empreendedorismo. Disponíveis nas modalidades on-line ou presencial, as aulas focam em atividades práticas, incluindo brainstormings, depoimentos de empresários e dicas para desenvolver um plano de negócios. “A ideia é aproximar estudantes do ambiente empreendedor para garantir que teremos profissionais bem preparados para empreender, não apenas na iniciativa privada, mas também dentro das organizações e em suas vidas profissionais de maneira geral”, explica Marcos Mueller, coordenador da Endeavor em Santa Catarina.
O programa também inclui diversos casos de empreendedores brasileiros de sucesso, que ajudam a enriquecer a teoria a partir de suas experiências pessoais. “Ao fim do programa, o aluno poderá formatar um plano de negócio a partir de todas as questões que responderá ao longo do curso.” O material didático foi adaptado para o ambiente de negócios brasileiro por professores especialistas em empreendedorismo de algumas das melhores instituições de ensino brasileiras (FGV, Insper, Ibmec, PUC-RS, Unicamp, Inatel, Senac, entre outras).
Até o momento, o “Bota pra Fazer” já capacitou exatos 23.052 alunos em oito estados brasileiros. Entre as instituições parceiras, estão mais de 20 das mais renomadas universidades nacionais, como Anhembi Morumbi, ESPM-RJ, FGV-EAESP, ITA Newton Paiva, PUC-RS, PUC-PR, UFPR, UFRJ, Unicamp, entre outras. Além dessas, o Instituto Educacional da BM&F Bovespa também aplica o programa para empreendedores vinculados a incubadoras e parques tecnológicos.
Em Santa Catarina, onde está prestes a ser implantado, o curso deve atender inicialmente 2 mil estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e Universidade do Contestado (UNC). Na UFSC, por exemplo, a parceria ocorreu no início de novembro de 2013, por meio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), e será coordenada pelo professor Rolf Hermann Erdmann. Em todas as universidades, as aulas práticas iniciam no primeiro semestre de 2014. Marcos Mueller espera que a iniciativa desperte o interesse dos estudantes catarinenses e que os prepare para colocarem suas ideias em prática. “Hoje os jovens acreditam no empreendedorismo como um opção de carreira, mas apenas 30% deles buscam capacitação para fazê-lo”, destaca.
Lançado em 2010, o “Bota pra Fazer” foi implantado pela primeira vez num curso de MBA do Ibmec-RJ. Já na PUC-RS, quem conclui o programa ganha uma certificação adicional em empreendedorismo. “Não existe uma maneira única de aplicar a metodologia. Todo o conteúdo, com videoaulas e exercícios práticos, está presente em uma plataforma virtual. Desta forma, preparamos os parceiros, treinando professores que se tornam facilitadores do conteúdo programático e oferecendo recursos didáticos para que os alunos desenvolvam suas próprias iniciativas de educação empreendedora”, explica Marcos.
Desde que foi lançado, o programa já ajudou a fazer a diferença na vida de muitos jovens aspirantes a empreendedor. É o caso de Caio Braz, um carioca de 23 anos que acredita no poder dos negócios com propósito para revolucionar o mundo. Formando em Engenharia Mecânica do ITA, Caio já fez cursos com professores de Harvard e Stanford. Bolsista da Fundação Estudar, passou nove meses trabalhando no movimento Oasis SC que levou 300 jovens a construírem mais de 20 espaços públicos em comunidades abaladas pelas enchentes em Santa Catarina, em 2009.
Em 2011, junto a outros amigos, ele criou a rede Polinize, que reúne jovens que desejam montar um negócio que transforme a realidade do País. Atualmente, é proprietário do Backpacker.net.br, um mundo que virtualiza a experiência de viagem para ensinar inglês de forma rápida, barata e divertida. A ideia do site nasceu durante o “Bota pra Fazer” ministrado no ITA em 2012 e foi uma das ganhadoras da Liga dos Campeões, acelerada pela Artemísia Negócios Sociais e integrante do Startup Network da Endeavor Brasil.
Quem também já participou do curso foi Thiago Feijão, idealizador da plataforma QMágico, que conecta brasileiros em um ambiente de aprendizado compartilhado on-line. Lançada em 2012, a start-up oferece gratuitamente videoaulas de matemática com conteúdos do ensino fundamental e médio e tem também uma plataforma adaptativa em que redes e instituições de ensino podem inserir seus conteúdos, propor atividades on-line, fazer avaliações de alunos e acompanhar o desenvolvimento de estudantes e professores de maneira individualizada. Além disso, é oferecido ainda um treinamento de ensino híbrido para os professores que passarem a adotar a plataforma em sala de aula.
“Durante o curso ‘Bota pra Fazer’ você enxerga cases de sucesso e, com isso, percebe que é possível criar o impossível”, destaca Thiago. Para ele, os maiores desafios do empreendedor estão relacionados a encontrar uma maneira de aprender rápido. “Se você já sabe onde achar informações ou tem uma bagagem de conhecimento relevante, as coisas caminham mais rápido.”