A saúde mental deve ser uma prioridade global

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*Carine Roos, CEO e fundadora da Newa

A saúde mental tem sido um tema bastante falado nos últimos anos, devido a sua importância em todos os segmentos da sociedade. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) escolheu como tema de sua campanha anual “Tornar a saúde mental e o bem-estar para todos uma prioridade global”, com o objetivo de conscientizar e impulsionar apoio para os que buscam apoio emocional.

Para se ter uma ideia de como a saúde mental ainda é estigmatizada, com a antiga abordagem de que “é coisa de louco”, “isso aqui parece um hospício”, dois em cada três dólares do escasso gasto público em saúde mental são destinados à hospitais psiquiátricos independentes – mais que a serviços de saúde mental comunitários, onde as pessoas recebem melhor atenção.

Entre as medidas que a OMS recomenda, destaco uma em que tenho atuado fortemente que é aprofundar o valor e o compromisso que damos à saúde mental: aumentar os investimentos, não apenas garantindo fundos e recursos humanos adequados em todos os setores da saúde e outros setores para atender às necessidades de saúde mental, mas também por meio de uma liderança comprometida, buscando políticas e práticas baseadas em evidências e estabelecendo sistemas robustos de informação e monitoramento.

O desenvolvimento de lideranças é fundamental para que as equipes se sintam mais seguras e conectadas em um ambiente acolhedor e saudável. Para preparar os líderes, as empresas podem investir em programas de desenvolvimento de soft skills, reconexão com suas emoções, autoconhecimento, inteligência emocional, resiliência, compaixão e empatia. Isso não pode ser uma ação pontual, mas deve ser realizada por meio de programas de capacitação das lideranças, pois sempre existirá a necessidade de atualizar os conhecimentos e integrar novos líderes.

Da mesma forma, é fundamental ouvir os colaboradores. Entender suas reais necessidades e como a organização pode estar a serviço dele buscando contemplar o seu bem estar e maior qualidade de vida. Isso irá implicar, muitas vezes, na revisitação da cultura, criação de políticas e processos que visem o cuidado com a saúde integral do time .

Vivemos, infelizmente, uma epidemia de pessoas doentes  nas organizações. Uma em cada quatro companhias afastaram de um a cinco funcionários por adoecimento mental nos últimos 12 meses, segundo uma pesquisa com 251 empresas brasileiras feita pelo portal Empregos.com.

Conversando com médicos e especialistas durante a terceira temporada do podcast “Somos Newa“, percebi que esta cultura do funcionamento ininterrupto, de estar à disposição da empresa o tempo todo, de não serem concedidas pausas, têm gerado uma fatura bem alta que nem mais aquela velha e boa receita que inclui alimentação adequada, prática regular de atividades físicas, cultivo de hobbies, boas noites de sono, fortalecimento de laços sociais e familiares, tem funcionado. O estado de alerta provoca, entre outros fatores, a elevação dos hormônios adrenocorticotrópicos e cortisol – diretamente relacionados ao estresse.

Por isso, reforço a necessidade vital das organizações desenvolverem lideranças humanizadas para apoiarem e acolherem seus colaboradores. Revisitar valores, culturas e processos. Permitir criar uma cultura onde a colaboração, a apreciação, o apoio mútuo, a tolerância aos erros e a aceitação da diversidade sejam incentivadas.

De acordo com a pesquisa Vigitel Brasil, realizada pelo Ministério da Saúde em 2021, pela primeira vez foram revelados números sobre a depressão. No inquérito, 11,3% dos brasileiros relataram quadro depressivo diagnosticado – o que significa cerca de 23 milhões de pessoas. Em termos de comparação, o número é bem acima da média apontada pela OMS para o Brasil, de 5,3%.

Por isso, a importância da liderança estar atenta à sua equipe e suas necessidades buscando um interesse genuíno pelo bem estar delas, indo além do trabalho e dos resultados. Vale lembrar que essas dicas também servem para o próprio líder, que deve ser exemplo, buscando incluir férias e pausas em sua rotina, fazer terapia, buscar maior consciência emocional, alimentação equilibrada e a prática frequente de exercícios.

A base para desenvolver uma boa saúde mental é o autoconhecimento. Ao se conhecer e conseguir nomear as emoções, é possível abrir espaço para direcionar nosso foco e desenvolver uma escuta ativa interna e externamente. Com isso, se pode atuar sem tanto medo de errar e tentar abordagens mais criativas e inovadoras. Melhorando, por consequência, a comunicação e as trocas entre os colaboradores.

Sobre Carine Roos – A profissional é especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos. Ela é CEO e fundadora da Newa Consultoria, uma empresa de impacto social que prepara organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade. Mais de 15 mil pessoas foram impactadas em vivências com mais de três mil horas em salas de aula e mais de 2 mil mulheres mentoradas, que hoje estão mais seguras, mais estratégicas, mais reconectadas com a sua história e com a sua essência. À frente da Newa, Carine tem como missão preparar líderes para que a Diversidade e a Inclusão sejam uma realidade imediata nas organizações.

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