Jornalista venceu doença grave com empreendendorismo

Sobrevivente de uma tragédia, Yara Rocca chegou ao mundo após um incêndio que matou seu pai biológico e fez sua mãe doá-la para adoção com apenas 5 dias de vida. Aos 14 anos, viu seu pai adotivo morrer na sua frente, em pleno Natal. Trauma superado, com 24 anos foi a vez de receber um diagnóstico terrível junto com um diploma de jornalista. Ela não se intimidou e decidiu empreender direto de sua cama, atuando como assessora de imprensa. Hoje, aos 49 anos, é sócia de sua irmã adotiva – uma deficiente intelectual e auditiva – no Laboratório de Reinvenção – empresa inovadora focada em aperfeiçoar o fator humano.

Quando cursava o último semestre do curso de jornalismo, Yara recebeu um diagnóstico que tiraria qualquer um do prumo – miastenia grávis – doença autoimune e neuromuscular que causa fraqueza incomum e rápida nos músculos. Ela ficou completamente paralisada, sem a menor condição de mexer um músculo sequer. “Apenas a minha mente e o meu coração pareciam estar funcionando. O restante do meu corpo parou, literalmente, de funcionar”, relembra ela.

Focada na conclusão do curso e, apesar de tamanho obstáculo, que para a maioria das pessoas seria um grande fator impeditivo, ela seguiu em frente com as mínimas condições que tinha e terminou seu curso fazendo os exames no hospital mesmo, aonde encontrava-se após uma cirurgia feita para retirar a glândula timo, localizada ao lado do coração.

Desafio vencido e de volta para casa com uma “sentença médica” pessimista dizendo que “aquela doença não tinha cura e que o melhor a fazer era se aposentar por invalidez e esquecer essa história de trabalhar, pois, devido a fraqueza e o cansaço extremos, os miastênicos não conseguem mais trabalhar”, contrariando os médicos, Yara decidiu empreender.

Na época ninguém falava em empreendedorismo, mas ela não pensou duas vezes e se abriu para esta possibilidade. Começou a trabalhar de sua cama mesmo, fazendo Assessoria de Imprensa de forma voluntária para um cliente que ninguém conhecia até então.

Para piorar a situação, era 1990 e o Brasil estava vivendo o Plano Collor e ninguém tinha dinheiro para pagar pelo seu serviço. Mesmo diante daquela crise financeira, Yara entendeu que o momento pedia experiência profissional e não dinheiro. Foi quando ela deu o seu melhor, ou seja, a sua criatividade e descobriu o poder que há nela. Principalmente em tempos de crise. “A criatividade é um dos atributos do amor e como o amor nunca falha, usei essa força do meu caráter e consegui provar que quando fazemos algo com amor, ele nos honra e nos ajuda a vencer, mesmo sem dinheiro. Não importa as condições e o tamanho do desafio. O amor é maior que tudo e sempre nos conduz à vitória”, declara Yara.

Em apenas um mês de trabalho aquele cliente virou capa de diversas revistas e jornais, virou notícia nos principais programas de rádio e TV e iniciou um grande e rápido processo de crescimento e expansão por todo o país. De lá para cá, os clientes nunca mais pararam de procurá-la.

Vinte e cinco anos se passaram, Yara já atendeu mais de 100 clientes, incluindo profissionais liberais e empresas nacionais e multinacionais de todos os portes. O Brasil pode conhecê-los através da mídia e aquela pessoa acamada e fraca transformou-se numa força poderosa através da qual seus clientes estão conseguindo se reinventar e passar por essa crise que começou na Europa em 2008 e já se instalou no Brasil.

O início do Laboratório de Reinvenção

Acostumada a gerenciar e transitar bem por crises, situações difíceis, adversidades, incertezas, perdas e desafios – tanto seus quanto de seus clientes – o momento pelo qual o Brasil está passando é apenas, mais um entre tantos, pelos quais Yara já passou. No entanto, não são todas as pessoas que tem esta habilidade que ela tem de sobra – o poder de se reinventar e com a rapidez que o momento pede.

Foi então que surgiu a ideia de criar uma empresa que ajudasse as pessoas não apenas a darem a volta por cima e serem mais resilientes, mas sim, fazer com que elas descubram a sua grandeza, ou seja, acessem esse poder chamado amor que habita dentro delas, que é aonde encontram-se as soluções para todos os problemas que elas causam para si, para o próximo e para o mundo. “As pessoas precisam ter mais noção de si, do outro e da vida. Há um campo de possibilidades inexplorado dentro de nós que precisamos aprender a perceber como funciona”, afirma ela.

Há mais de vinte anos Yara tem pesquisado o amor e como ele contribui para que uma pessoa consiga mudar da água para o vinho e se tornar melhor. Ela estudou, pesquisou, se abriu para experiências, entrevistou cientistas dos principais centros de pesquisa e estudos do mundo em Psicologia, Neurociências, Biologia, entre outras áreas do conhecimento e chegou à seguinte conclusão: o amor é o ar que respiramos, sem ele nada podemos fazer.

Ele encontra-se na natureza dos processos cognitivos centrais, portanto, ele habita no cerne da nossa inteligência. Para que o ser humano possa ser aperfeiçoado e melhorado como indivíduo, é preciso desenvolver a inteligência do amar. Foi graças ao amor que o homem pode participar do processo de evolução. É justamente ele que nos difere dos animais e plantas.

E este é justamente o foco de atuação do Laboratório de Reinvenção – desenvolver e aperfeiçoar a inteligência do amar para melhorar o fator humano. “Somente através do amor conseguiremos desenvolver as chamadas “habilidades do Século XXI para conseguirmos sair dessa crise e não criar outras maiores do que esta”, finaliza Yara.

Como a reinvenção encontra-se no seu DNA, ao abrir essa empresa, Yara começou reinventando a inclusão social: sua sócia é sua irmã que tem uma deficiência intelectual e auditiva de nascença e é, além de sua companheira de todas as horas, a pessoa mais qualificada para atuar com o amor que ela já conheceu na vida.

“Quem mais poderia ser minha sócia numa empresa que tem como foco desenvolver essa inteligência que a minha irmã tem de sobra, a do amar?”, pergunta Yara.

Segundo Yara, os deficientes precisam se reinventar e a sociedade também. Eles precisam descobrir sua grandeza, perceber o poder que tem e aprender a criar novas versões de si mesmos para que, após descobrirem o seu valor, o mercado faça o mesmo por eles.

E as empresas precisam saber que, por trás de uma deficiência existe um poder de superação e coragem para seguir adiante que, em certos casos, nem unindo uma corporação inteira de pessoas ditas “normais” não conseguiriam alcançar o resultado que um deficiente consegue fazer apenas estando presente naquele ambiente e fazendo parte da empresa. “A vida os protege e provê de todos os recursos de que necessitam”, informa Yara.

 

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