Na crise, quem sai ganhando é a startup resiliente

Por Fernando Nunes, cofundador e CEO da fintech Transfeera

Nos últimos meses, foi possível observar a fuga de capital de risco do mercado brasileiro. É importante lembrar que o principal objetivo desse tipo de investimento é injetar valores em empresas que estão em fase de expansão ou concepção, a fim de ajudá-las a expandir com rapidez e entregar melhores resultados. Entretanto, com a crise, os investidores ficaram mais seletivos.

Muitos fatores colaboraram para que chegássemos ao patamar atual, como o cenário de inflação global e alta de juros, a Guerra na Ucrânia e outros. Mais recentemente, vimos a falência do Silicon Valley Bank (SVB), marcando a segunda maior falência de um banco na história dos EUA, a maior desde a crise de 2008.

O modelo tradicional de investimento em startups é baseado em apostas arriscadas. Os investidores colocam dinheiro em várias startups, com a esperança de que algumas delas se tornem unicórnios e gerem um retorno significativo. No entanto, essa estratégia pode levar a uma bolha de investimento, na qual as startups são super avaliadas e recebem mais dinheiro do que precisam. Quando a bolha estoura, muitas  delas não conseguem sobreviver.

Todo esse contexto tem freado o crescimento acelerado dos investimentos. Na América Latina, o Brasil costuma ter o maior número de investimentos: em 2021, quebramos recordes. Esse ritmo de queda é comprovado por dados divulgados pelo Distrito, que lançou o Venture Capital Report e constatou que o primeiro trimestre de 2023 chegou ao fim com a queda de 86% em novos investimentos em startups brasileiras em comparação com o mesmo período de 2022.

Foram realizadas 91 rodadas de investimento em startups em 2023, injetando US$247,02 milhões no mercado. No mesmo trimestre do ano passado, o setor contabilizou 306 rodadas e US$1,7 bilhão em investimentos.

Muitas empresas em estágio inicial dependem de um grande volume de investimento para se manterem em atividade, o que as torna vulneráveis às flutuações do mercado. Mas e se houvesse um modelo de negócio que permitisse às startups sobreviverem à crise e crescerem de forma sustentável? É aí que entra a “startup camelo”.

Uma startup camelo é uma empresa que opera com poucos recursos e cresce de forma constante e sustentável. A analogia com o animal se deve ao fato de que os camelos são capazes de passar longos períodos de tempo sem água ou comida, adaptando-se às condições hostis do deserto. Da mesma forma, as startups camelo são capazes de sobreviver às flutuações do mercado e crescer de forma sustentável, sem depender de grandes investimentos.

Dentre as características desse tipo de startup, destaco:

  • Foco na sustentabilidade: procuram crescer de forma constante e sustentável, sem depender de grandes investimentos.

  • Operação enxuta: operam com poucos recursos e procuram otimizar seus processos para reduzir custos.

  • Flexibilidade: são capazes de se adaptar rapidamente às mudanças do mercado e às necessidades dos clientes.

  • Cultura empresarial forte: valorizam a cultura empresarial forte, com uma equipe comprometida e alinhada com os objetivos da empresa.

Ser uma startup camelo pode ajudar as startups a passarem pela crise de investimento de diversas maneiras. Em primeiro lugar, por serem capazes de crescer de forma sustentável, sem depender de grandes investimentos. Isso significa que elas são menos vulneráveis às flutuações do mercado e podem se adaptar rapidamente às mudanças no ambiente de negócios. Além disso, são capazes de operar com poucos recursos e reduzir custos, o que as torna mais eficientes e competitivas.

A crise de investimento nas startups pode ser um desafio para muitas empresas. No entanto, as “startups camelo” oferecem uma alternativa sustentável e eficiente para as empresas que procuram crescer de forma constante e adaptar-se rapidamente às mudanças do mercado. Com uma cultura empresarial forte, operação enxuta e foco na sustentabilidade, as startups camelo estão preparadas para sobreviver às flutuações do mercado e crescer de forma sustentável a longo prazo.

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