Por Jimmy Lui, head de Inovação e Open Finance do banco BV*
A chegada do Web Summit ao Rio de Janeiro é mais um sinal de uma transformação muito maior no brasil
Trabalho com inovação corporativa há quase uma década e sempre vi uma desconexão entre as expectativas da alta liderança e a capacidade do resto da empresa de transformar esses desejos em realidade. Enquanto o “C-Level” sempre teve uma visão clara da transformação que todas as indústrias estão passando – e o papel fundamental da inovação nessa mudança, os demais profissionais das corporações ainda estavam majoritariamente focados nos processos estabelecidos para entrega dos indicadores de curto prazo.
A crescente participação dos brasileiros nos eventos de inovação indica, na minha opinião, que esse gap está diminuindo rapidamente. Conforme o tempo passa, mais profissionais de níveis não executivos se interessam por conteúdo e práticas originadas pelos players da revolução digital, buscando incorporar essa mentalidade no seu dia a dia. Este novo comportamento inclui aplicar o método científico na execução de novas iniciativas (i.e. hipótese + teste rápido + análise de dados para escalar o que funciona) e o hábito de buscar conhecimento e relacionamentos fora do ambiente usual das grandes corporações.
Os sinais desta mudança são cada vez mais evidentes: o próximo grande evento de inovação é o Web Summit no Rio de Janeiro, que realiza a sua primeira edição fora da Europa e já teve todos os seus 20 mil ingressos vendidos. Vi o mesmo interesse do público no South Summit, realizado em Porto Alegre em Abril, e fiquei bastante feliz com a companhia de mais de 2 mil brasileiros no SXSW em Austin, neste ano. Foi a maior delegação estrangeira do SXSW! É razoável assumir que grande parte dessas pessoas não tem cargos de diretoria e, mesmo assim, dedicou tempo (e orçamento) para participar destes eventos.
Mas quais são as grandes crenças que motivam as pessoas a dedicarem mais tempo no que chamamos de “ecossistema de inovação”? Eu entendo que são pelo menos três princípios que estão cada vez mais incorporados na vida profissional dos brasileiros:
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Sempre haverá mais inovação fora do que dentro de qualquer empresa: é uma simples questão de lógica. Não importa quão criativa seja seu time ou corporação, sempre haverá mais inovação nascendo fora do seu prédio, e é necessário pensar em maneiras de trazer soluções interessantes “de fora para dentro”. Um percentual significativo das grandes empresas de hoje nasceu na era das antigas áreas de P&D, que operavam a portas fechadas e empilhavam patentes como medida de sucesso. Com o crescimento da inovação aberta como modelo predominante, o modelo de P&D tem se tornado cada vez menos aplicável à maioria das indústrias. A consequência imediata da predominância do modelo de inovação aberta é a descentralização da responsabilidade de inovar para as mais diferentes áreas das empresas.
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Uma empresa mais aberta é uma empresa mais inovadora: para pensar e implementar coisas novas, é preciso repertório, perspectivas e estímulos diferentes da nossa rotina atual. Por exemplo, eu acredito que nunca voltamos iguais quando viajamos para um país novo – o contato com novas culturas, comidas e línguas sempre tem um efeito duradouro na nossa personalidade. O mesmo também vale para nossa “personalidade profissional”: quanto mais diversa a nossa rede de parceiros e relacionamentos, maior a probabilidade de geração de novas ideias e perguntas. Em resumo: diversidade de conexões gera mais negócios. Além de conteúdo, os eventos são essencialmente espaços de conexão entre os diferentes “atores” do ecossistema (corporações, empreendedores, investidores, aceleradoras, etc.). Com a crescente sofisticação dos modelos de negócio e o ritmo acelerado no surgimento de novas tecnologias, torna-se essencial criar o hábito (e os processos) para estabelecer novas parcerias a todo momento.
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Inovação corporativa exige consistência e recorrência: grandes empresas em geral são bem-sucedidas porque fazem algo muito bem – o que tipicamente implica em alta especialização, processos estáveis e incentivos à eficiência. Nesse contexto, há grande resistência em se modificar processos que estão funcionando. Testar e implementar novas soluções se assemelham muito mais com maratonas do que corridas de 100 metros. Somos inundados com muito conteúdo abordando a – sempre excitante – etapa de ideação, mas minha experiência me faz acreditar que a adaptabilidade é um atributo muito mais útil que a criatividade para equipes que precisam inovar recorrentemente.
Na última década acompanhei o nascimento e contínuo amadurecimento dos diferentes atores especializados em inovação no Brasil (aceleradoras, investidores, Venture Capital, startups, associações). As corporações são parte importante dessa equação, tanto pelo seu papel na economia como pela capacidade de fomentar o crescimento do ecossistema como um todo – seja através de programas específicos ou de parcerias de negócio.
A massiva presença de brasileiros nos eventos, tanto nacionais como internacionais, é um sinal inequívoco que a inovação deixou de ser uma prioridade restrita as salas de diretoria e entrou de vez na pauta dos demais profissionais das empresas.
*Jimmy Lui é head de Inovação e Open Finance no banco BV. Atualmente lidera as equipes que fomentam a inovação aberta e desenvolvem as estratégias de aplicação do Open Finance nos processos e negócios do banco. Com mais de 20 anos de experiência na indústria financeira, Jimmy já atuou em empresas como Accenture e Itaú Unibanco. O executivo é formado em Engenharia Eletrônica pela Escola de Engenharia Mauá, possui MBA em Gerenciamento de Projetos pela Universidade de São Paulo e é certificado pelo MIT em Inovação Corporativa.