Para André Perfeito, da Gradual Investimentos, encolhimento do setor indústrial deve contribuir negativamente para o PIB
Indicadores recentes da indústria, como a queda de 2% da produção industrial em setembro ante agosto e a redução nas expectativas dos empresários no mês passado, evidenciam que a atividade do setor não está passando apenas por uma acomodação, mas por uma "certa" contração. A avaliação é do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
Por causa disso, ele revisou para baixo suas estimativas de crescimento para a economia neste e no próximo ano. Segundo cálculos do economista, o Produto Interno Bruto (PIB) não deve mais crescer 3,5% em 2011, mas sim 3,0%, e sofrer uma redução de 0,25% no terceiro trimestre. Para 2012, ele estima que a expansão econômica será de 2,0% e não mais de 3,0%. "Neste sentido há espaço para a política monetária ser ainda mais expansionista", afirmou.
Na avaliação dele, o encolhimento da indústria será percebido com mais força na primeira parte de 2012. "Esta retração não será sentida já, mas é muito provável que o primeiro semestre do ano que vem seja de fato bastante ruim, numa junção perversa de queda do investimento com o setor externo contribuindo negativamente para o PIB", escreveu ele, em relatório distribuído a clientes.
Para traçar esse cenário, Perfeito explicou que toma como base os últimos dados de atividade. "Olho especialmente a produção de bens de capital e expectativas dos empresários", afirmou, em entrevista à Agência Estado. "Os dados da produção industrial foram extremamente decepcionantes, algo que já havia sido capturado por outros canais, entre estes o IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central)", completou.
Em setembro, a produção industrial caiu puxada principalmente pelo recuo de 5,5% na produção de bens de capital, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Este fenômeno já havia sido antecipado pelo estado da confiança do empresariado, que está em queda", disse, referindo-se ao Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) da Confederação Nacional da Indústria (CNI) – após ter ficado estável em setembro, o índice voltou a cair em outubro e chegou ao menor patamar desde abril de 2009, a 54,6 pontos. "Além disso, a queda da Bolsa acaba revelando um estado pior das expectativas dos empresários", acrescentou. De janeiro até hoje, o Ibovespa acumula perdas de cerca de 16%.
Taxa de juros
A expectativa de um cenário mais difícil para a atividade econômica no primeiro semestre do ano que vem também fez a Gradual Investimentos mudar sua estimativa para o juro básico, a taxa Selic. "Trabalhamos não mais com dois cortes de 0,50 ponto porcentual na Selic, mas sim três cortes", disse. Sendo assim, ele projeta que a taxa de juros atingirá 10% no início de março.
Para a inflação oficial em 2012, a previsão do economista foi revisada de 5,40% para 5,10%. Em 2011, a estimativa para o IPCA foi mantida em 6,40%. Ele espera que os preços de serviços, embora devam continuar elevados, irão acelerar menos no próximo ano. "Uma vez que a renda real do trabalhador parou de subir na velocidade antes verificada", justificou.