A WGSN, especialista global em análises e previsões de tendências, indica as quatro principais tendências para as empresas ficarem de olho em 2018. Identificadas por profissionais ao redor do mundo, por meio delas, é possível antecipar os principais rumos que guiarão o comportamento e consumo no ano que se inicia.
Julia Curan, consultora WGSN Minset, explica que a tecnologia é irreversível, mas a valorização do fator humano está cada vez mais presente: “Quando mapeamos essas tendências, sempre partimos de um ponto em comum e, para os próximos anos, o fio condutor é a valorização do humano, o que questiona também como vemos o futuro. Querendo ou não, quando falamos do que virá, ainda o associamos muito à tecnologia, e é claro que não podemos excluí-la, mas todas as tendências possuem esse caráter humano embutido”, destaca.
A especialista em previsão de tendências dá um exemplo de como é possível já identificar alguns desses movimentos: “No Brasil, algumas dessas tendências já começam a aparecer, um exemplo cultural que demonstra essa questão do multilocal é “Francisco El Hombre”, que é um som eletrônico, mas ao mesmo tempo regional e com características brasileiras. Esse tipo de influência terá impacto no mercado como um todo, nas referências que consumidores irão se basear na hora de tomar decisões”, explica.
Confira, então, as quatro tendências:
1ª macrotendência: O PENSADOR – A valorização do aprendizado e da criatividade
Graças à conectividade digital, nunca tantos países tiveram acesso à educação como hoje. E na evolução desses novos caminhos do conhecimento, nasce um desejo das pessoas por aprender em novos lugares. Com menos trabalho braçal e mais tempo livre, no futuro a busca para o preenchimento destes “novos espaços” se dará com educação e lazer, onde as escolas e bibliotecas – online e físicas – serão meios para proliferar o pensamento criativo e, também, propiciar momentos de entretenimento.
As viagens de “bleisure” – em que há a mistura negócios (business) e lazer (leisure) – transformarão a força de trabalho. As empresas não só fornecerão vantagens para estender as viagens a negócios, mas, também, encontrarão formas de manter seus resultados, testando semanas de expediente mais curtas com intuito de facilitar o equilíbrio vida profissional e pessoal para seus colaboradores.
No mundo saturado pela mesmice dos produtos, as artes serão ainda mais inspiracionais: o conceito de artesanato irá evoluir para uma mistura elegante de produtos artesanais e produzidos em série, e os produtos, terão seu próprio conhecimento, além de uma comunicação mais clara com relação aos seus projetos e as histórias referentes ao seu design.
As marcas irão contratar mais “acadêmicos”, como filósofos, historiadores e estudiosos para trabalhar de casa e, consequentemente, acrescentarão novas dimensões de inteligência ao comércio. Por fim, os intelectuais digitais adotarão as mídias sociais, a tecnologia inovadora e as práticas modernas de bem-estar, com intuito de abrir suas mentes e aguçar as ideias.
2ª macrotendência: NATUREZA HUMANA – O valor da intuição e das emoções
Ao contrário do movimento que retrata que o mundo está sendo movido por dados, para os próximos anos, a tendência será a de voltar a confiar em nossa intuição. Para validar que essa linha de movimento já dá sinais de vida, de acordo com a Economist Intelligence Unit, 87% dos executivos irão questionar em dados em geral, caso estes forem contrários ao que o seu “instinto diz”.
Tendo em vista também que a economia global sofrerá um desaquecimento, o uso do instinto, para muitos, será pensar a longo prazo, desenvolver recursos sustentáveis e buscar soluções na natureza e em outras espécies. Com a desaceleração da economia, as marcas inteligentes e os consumidores antenados investirão em sistemas de longo prazo para sustentar os negócios e o planeta.
Atualmente, acredita-se que o instinto, conhecido como “segundo cérebro”, tem mais impacto na saúde do que o DNA. Diante disso, a saúde intestinal irá transformar a indústria do bem-estar. O mercado global de probióticos, por si só, deverá crescer para US$66 bilhões até 2024.
A diversidade emocional também vai estar em ascensão. O consumidor buscará novas sensações, emoções e palavras para expressá-las. A tecnologia de vestuário e sua experiência vão explorar novas nuances e, consequentemente, sensações, dando ao consumidor o senso físico de orientação e a conexão com a terra, tão comuns no passado.
A importância da carne no hábito alimentar será mais questionada, devido ao aumento da conscientização sobre as questões de sustentabilidade e dos direitos dos animais. Por isso, a comida adotará um novo aspecto físico, em que seu ponto alto será a sensação do toque e textura, no qual caberão novas dimensões táteis para confrontar a cultura dos alimentos pré-preparados.
3ª macrotendência: ENCANTOS DA NOITE – a relação cada vez maior das pessoas com a tecnologia
Essa tendência investiga nossa profunda fascinação pela tecnologia e experiências tecnológicas. Em um futuro próximo, ultrapassaremos nossa condição humana, acessando estados hiper-humanos. Vamos aproveitar os poderes dos dados e inteligência artificial para transformar nossas vidas para melhor, experimentando seus benefícios, e, ao mesmo tempo, investigar seus lados mais obscuros.
Aproveitando os sentimentos de fascínio e medo, experimentaremos sensações do “sublime digital”. Já que a realidade aumentada (RA) e a virtual (RV) irão não só transformar nosso dia a dia, mas, também, propiciar momentos de diversão, sensualidade e prazer.
Os dados e estratégias da inteligência artificial serão os principais motivadores da inovação e do crescimento nas grandes empresas, assim como foram as estratégias de internet no passado. Os dados serão o novo “combustível da indústria”, e a Inteligência Artificial será a nova eletricidade na era das utilidades digitais.
Os designs que trabalham com os cinco sentidos se tornarão um foco para produtos e espaços, à medida que a economia da experiência cresce: bem-vindo ao design dramático.
Como as preocupações em torno da tecnologia continuam a crescer, ela oferecerá um contrapeso: a experiência será cada vez mais qualificada. Ou seja, um tipo de inovação que traz sensações e proporciona interação com o consumidor, trazendo o lado mais humano também para revolução tecnológica.
4ª macrotendência: CONEXÃO GLOCAL – o ser humano é globalizado, ao mesmo tempo que valoriza suas origens
Haverá um aumento na multilocalidade. Desta forma, passaremos a nos sentirmos em casa nos mais diversos lugares e, também, seremos inspirados por diversas épocas. As tensões entre os países, o nacionalismo e uma visão mais global ainda estarão presentes, mas, mesmo assim, será possível observar um aumento com relação ao sentimento de que a cultura pode ser mais forte que a própria localidade. Além disso, uma maior consciência da compreensão do multilocal surge – sentimento de identidade formado por uma diversidade de lugares, experiências e culturas – e a cultura urbana exemplificam isto: ela é local, é global e suas influências vão além da cidade e da nação.
Neste sentido, à medida que repensamos este movimento urbano dentro de uma era mais global, a cultura, a comunidade e a história se tornam mais abertas nas nações emergentes, especialmente locais onde a maioria da população é otimista, receptiva e está abaixo dos 25 anos. Este espírito causará a ascensão do design “totalmente inclusivo”, ao modo que caminhamos para um período de design para todos e feito por todos. Nesta ótica, as indústrias irão se unir para criar este modelo.
A nostalgia servirá como unificador cultural. Com a cultura e história sendo tão facilmente difundidas em escala global, o passado pode parecer mais seguro e convidativo que o presente. Para uma geração que cresceu ciente da escassez dos recursos, reutilizar o que vem do passado é algo que faz sentido.
Esgotados das cidades, a Geração Y, famosa millennials, optará por “subúrbios urbanos” – espaços suburbanos, mas com aspecto urbano, o que inclui comunidades abertas, vizinhanças multiculturais, áreas verdes e modelos de habitação flexíveis. Neste novo estilo de vida, os novos formatos de consumo serão voltados para as pessoas que fazem grandes trajetos para o trabalho. A ideia é que haja uma revolução em termos de transportes, com veículos automáticos e “estações fitness” móveis, além da inclusão de espaços de varejo.
Em relação ao mercado brasileiro, Luiz Arruda, consultor sênior WGSN Mindset, explica que dentro das tendências para os próximos anos, a maior defasagem ainda é em relação à tecnologia: “Talvez a maior dificuldade nas indústrias brasileiras seja em como elas se utilizam da tecnologia, de encontrar marcas que estão se beneficiando dessas ferramentas tecnológicas que já estão difundidas, em larga escala. Não considerar o que inevitavelmente está por vir, é o mesmo que ficar para trás”.