Ela superou o preconceito e as crises e inova na área da saúde após os 60

Liana Segal empreendedora

“Mulher, mãe e avó”, Liana Segal é fundadora do Espaço Médico Brasil, primeiro coworking médico do país, que se tornou healthtech durante a pandemia e lança plataforma de saúde colaborativa

As mulheres já são a maioria da população, do eleitorado, do ensino superior e representam 48,7% do empreendedorismo no Brasil, de acordo com os dados da Global Entrepreneurship Monitor. Mesmo diante de todos os obstáculos que persistem na sociedade, das crises econômicas, da pandemia e de ter que conciliar as gestões dos negócios e da família, elas seguem superando desafios e inovando em diversas áreas. Nem mesmo o preconceito com a idade, que persiste no mercado, é uma barreira para as empreendedoras. Na verdade, tornou-se uma aliada para muitas delas, que mantêm viva a chama da paixão pelo que faz aliando o sonho à maior experiência para gerar uma ousadia consciente. “Empreendedoras são criativas, inovadoras e não têm medo das crises”, destaca Ana Fontes, presidente da Rede Mulher Empreendedora (RME).

Um exemplo nesse sentido é a empresária carioca Liana Segal, de 63 anos. Ela inovou há mais de 20 anos ao criar, em 1999, o primeiro coworking do Brasil dedicado exclusivamente aos profissionais da saúde, o Espaço Médico Brasil, no Rio de Janeiro. A pandemia veio, mas não assustou a empresária, que decidiu investir em tecnologia e na expansão do negócio. Do coworking, o Espaço Médico Brasil se tornou, durante a pandemia, uma empresa de soluções tecnológicas na área da saúde, uma healthtech, caminho encontrado diante das dificuldades do momento. Foram mais de R$ 100 mil investidos no momento mais crítico do avanço da doença e das medidas de contenção no país. Com isso, a empresa passou a disponibilizar diversos serviços, como franquia, telemedicina, sistema de marcações de consultas, call center e uma plataforma online que conecta médicos a consultórios ociosos para ajudar os profissionais da saúde que estão começando ou que perderam seus consultórios por causa da crise e quem possui espaços ociosos e precisa movimentá-los para sair do vermelho.

Tecnologia dá nova perspectiva a médicos, pacientes e espaços comerciais

De acordo com dados do Sebrae, um médico que possui o seu próprio consultório arca com um custo mensal para operar entre R$ 5 mil e R$ 25 mil. A crise gerada pela pandemia impactou a renda dos médicos, resultando na disparada da devolução de chaves e desocupação de consultórios por parte dos profissionais que não puderam mais arcar com as altas despesas.

Diante desse cenário, Liana recorreu à sua experiência com economia colaborativa para desenvolver uma plataforma que unisse as pontas a fim de reverter esse quadro. Surgiu assim a Meu Espaço Médico, uma proposta inovadora que permite o intercâmbio de diversas especialidades médicas em busca de um espaço para atender e clínicas com consultórios bem montados disponíveis para locação por período a um bom custo-benefício. Uma espécie de Airbnb de consultórios médicos. A ideia é aproximar esses profissionais dos pacientes no endereço de sua escolha e com todo o suporte logístico de marcação de consultas e S.A.C. humanizados, por meio de ramal único que redireciona pela proximidade e dentro da especialidade. Tudo isso a um investimento para o médico até 90% menor do que as despesas com o próprio ponto.

– A rotina do médico é intensa, trabalham em vários hospitais e clínicas, subutilizando o consultório e mantendo o custo com aluguel e assistente altíssimo. Manter essa estrutura ficou inviável para muitos profissionais da área, que estão mais atentos a soluções mais sustentáveis. E verifiquei também que, mais do que uma franquia de coworking, quem possui espaços ociosos, busca comodidade, menos burocracia, mais agilidade, ampla flexibilidade, base tecnológica e um custo mais acessível. A nossa proposta é uma evolução do modelo tradicional de coworking médico. Com a Meu Espaço Médico, o médico tem à sua disposição uma série de clínicas, preparadas para recebê-lo de forma profissional por um período mínimo de 4 horas semanais e todo o apoio do nosso call center e portal para marcação de consultas. O resultado para o médico é uma maior flexibilidade de horários e possibilidade de atender pacientes de diversos bairros da cidade, sempre com o menor custo possível. Para as clínicas, redução da ociosidade de consultórios vagos e aumento de faturamento. E o paciente tem um especialista sempre por perto – explica Liana.

A primeira etapa é consolidar a sua atuação em todo o estado do Rio de Janeiro para, em seguida, expandir em outras praças. A empreendedora projeta que, até o fim de 2022, a plataforma impacte mais de 200 consultórios e 2.000 médicos, passando a movimentar no ciclo colaborativo cerca de R$ 20 milhões ao ano.

– Novos desafios têm surgido com um dinamismo muito maior do que em outros tempos, mais urgentes ainda desde a pandemia. E as soluções precisam nascer com a mesma agilidade. Acompanhamos essas transformações e hoje somos uma empresa de soluções tecnológicas na área da saúde – finaliza.

Atendimento humanizado

Em paralelo ao aparato tecnológico, Liana percebeu que, em tempos de ansiedade e apreensão exacerbadas, investir no atendimento humanizado é fundamental para promover uma experiência diferenciada no suporte aos médicos na gestão e na captação dos seus pacientes. “As pessoas estão mais fragilizadas e a carga de estresse aumentou, efeitos, em grande parte, da pandemia. Temos a sensibilidade de um ambiente que lida com vidas, problemas, saúde. As tomadas de decisão são voltadas para o bem-estar e não para o lucro”, destaca.

O serviço cresceu e passou a atender não apenas o coworking, como também diversos médicos em pontos espalhados pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Por meio de um ramal único, os pacientes têm acesso a uma variedade de especialidades e escolhem o profissional mais próximo com o auxílio de uma telefonista real, que também faz contatos de rotina.

– Fazemos e recebemos ligações com a finalidade de agendar e confirmar consultas médicas, seja presencial ou por telemecidina, além de lembrete das mesmas. O serviço dá todo o suporte logístico de marcação de consultas e S.A.C. humanizados, por meio de ramal único que redireciona pela proximidade e dentro da especialidade. Aproxima o paciente, pois o atendimento é personalizado e temos muitos contatos na faixa da terceira idade, que interage mais e requer um acolhimento e atenção diferenciados. Já para o médico que nos contrata e se insere na nossa base de dados, geramos redução de despesas e maior agilidade, pois, além do contato direto com o call center, tem acesso a todas as informações necessárias, como bloqueio de horários, cancelamento de consultas, marcações ou retornos, direto do consultório, por meio de uma plataforma online – explica.

O sucesso fez com que a equipe dobrasse de tamanho e a empreendedora já se prepara para expandir a atuação para outros estados. O sistema já integra mais de 400 mil pacientes e mil médicos. Em 2020, foram 84 mil atendimentos realizados e em 2021, 150 mil.

Sonhos não podem envelhecer

“Com 63 anos, dois filhos e quatro netos”, como costuma dizer, a empreendedora atribui à experiência trazida pelo tempo o fator fundamental para conseguir encarar os desafios de forma tão destemida. “Como eu comecei a minha vida empresarial com 27 anos, muito cedo, sentia, muitas vezes, que a juventude não me trazia credibilidade. Hoje, adoro dizer a minha idade e ver que ela me empodera e autoriza minhas ações”, revela e completa: “Como mulher, mãe e avó, me vejo uma empreendedora mais amorosa nos negócios, com mais empatia, mas firme para atingir os objetivos”.

A empresária ressalta, no entanto, que os anos de vida e experiência não podem ser um fator que crie uma zona de conforto no aprendizado e na capacidade de mudar e crescer. “Sonhos não podem envelhecer, nem a capacidade de inovar, se renovar e crescer. Eles devem, sim, amadurecer até que se tornem realidade. E o tempo precisa ser visto e usado como um parceiro nesse processo”.

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