Desejo Incontido

O desejo de abrir o próprio negócio fez com que o paulistano Jorge Torres se lançasse logo cedo no mercado de trabalho. Seu primeiro emprego foi aos 15 anos como lavador de pratos.

Aos 16, era gerente de uma rotisserie. Aos 23, após se formar em Processamento de Dados, resolveu colocar o sonho de criança em prática: ter um restaurante. Hoje, aos 39, ele comemora o sucesso da China House, rede de franquias especializada em comida chinesa, que atualmente possui 16 unidades em operação no País.O espírito empreendedor surgiu ainda na infância por influência da família. Descendente de portugueses, Torres acompanhou os pais numa sucessão de empreendimentos. “Como típicos portugueses, meus familiares sempre tiveram negócios ligados ao comércio, como açougue, padaria, supermercado e lanchonete”, conta. Fascinado com a ideia de um dia também ter a própria empresa, ele buscou a independência financeira ainda na adolescência, trabalhando sempre em restaurantes.

Mas, embora seus pais tenham sido proprietários de churrascaria e lanchonete, Torres não se contentou em trabalhar com a família. “Eu sempre fui um pouco desgarrado, tinha uma visão diferente da deles, achava que era preciso expandir e aprimorar o negócio, então preferi traçar meu caminho de forma independente.” De lavador de pratos a gerente, passando por caixa e garçom, Torres fez um pouco de tudo em restaurantes e cafeterias na capital paulista.

Até que, em 1994, foi contratado para o cargo de gerente de uma das lojas da lig lig, rede de restaurantes de comida chinesa pioneira no segmento no Brasil. A experiência durou apenas cinco meses, mas foi fundamental para que Torres decidisse o tipo de negócio que queria para sua vida. “Sempre me vi como operador de uma empresa do ramo alimentício, mas ainda não sabia de qual segmento, quando me deparei com a gastronomia chinesa, que até então eu conhecia muito pouco”, relembra o empresário, que na época havia recém-concluído a faculdade de processamento de dados.

Outro motivo que levou Torres a optar pelo ramo de comida chinesa foi a maior facilidade no preparo das receitas, que são feitas na hora e exigem menos pré-preparo. “Eu via meus familiares trabalhando em outros tipos de restaurantes e a rotina era muito sofrida. O pessoal tinha que chegar às 6h para começar a fazer o almoço, que seria servido às 11h, depois já começava a preparar o jantar, e a casa só fechava à meia-noite.”

Com o dinheiro que havia juntado, Torres resolveu abrir a primeira unidade da China House, inaugurada em 1995 no Bairro Santana, zona norte de São Paulo – mesmo local onde ele cresceu e morou a maior parte da vida. “Começamos do zero e foi um aprendizado, pois o espaço e o formato da loja não eram adequados”, conta o empresário, que aproveitou a oportunidade para adequar o ponto e testar todos os aspectos do negócio, entre equipamentos, receitas e processos de trabalho. 

Divisão de tarefas

As melhorias e adequações foram definitivamente colocadas em prática com o lançamento da segunda unidade da China House, dois anos mais tarde, localizada no Bairro Tatuapé, na capital paulista. Até esse momento, o empreendedor dividia todas as funções administrativas, financeiras e práticas com a mulher, Cristina Torres. “Eu ficava numa loja, minha esposa em outra e fazíamos de tudo no restaurante, correndo de um lado para o outro, do caixa para a cozinha, e assim por diante”, recorda.

Além de ser o responsável pela gestão da empresa, o empresário sempre fez questão de participar do desenvolvimento dos pratos, literalmente colocando as “mãos na massa”. “Gosto de cozinhar, todas as receitas da China House foram elaboradas e testadas por mim”, orgulha-se. Foi a partir do ano 2000 que Torres decidiu tomar as rédeas do crescimento da  empresa, que a cada dia atraía mais clientes e pessoas interessadas em se juntar ao negócio. Para expandir de forma gradual e planejada, ele optou pelo sistema de franquias. “Percebemos que só por meio do franchising seria possível crescer com segurança, sem comprometer a qualidade e  a padronização da marca”, afirma o empreendedor, que se afiliou à Associação Brasileira de Franchising (ABF) no mesmo ano. Com o auxílio da ABF e de um consultor especializado, teve início a formatação  do plano de franquias da China House.

Segundo Torres, essa foi uma das fases mais complexas da empresa – e de sua carreira como um todo. “Foi preciso repensar todo o plano de negócios, de forma que nossa
proposta se transformasse em algo palpável para os candidatos”, comenta. Atento aos novos rumos do negócio, o empresário acompanhou de perto cada etapa do processo, incluindo a elaboração dos manuais de recursos humanos, operação e ferramentas de gestão, entre outros.  Um ano depois, em 2001, foi inaugurada a primeira franquia da rede, no Bairro Tucuruvi. “Começamos a testar o projeto de franquias e demos total atenção a esta primeira experiência, como se fosse um filho”, rememora. “Se hoje costumamos
manter um supervisor na loja por 15 dias  após a inauguração, da primeira vez ficamos por dois meses.”

O segundo franqueado surgiu logo em seguida e com um novo desafio: ao invés de começar com uma loja do zero, o candidato teve interesse em comprar uma das unidades já em operação. “Vendemos o restaurante do Tatuapé e, na sequência, abrimos mais uma unidade própria na Mooca”, conta Torres, que mantém a postura de continuar investindo no crescimento da rede com a abertura de lojas próprias – que hoje em dia somam cinco  unidades, das 16 em operação.  “Depois da primeira franquia, aparamos algumas arestas e demos início ao plano de expansão, sempre focando a qualidade ao invés da quantidade”, reflete. Para cumprir essa meta, o empresário adotou uma postura cautelosa na hora de abrir novas unidades.

“Não corríamos atrás de franqueado, éramos muito mais receptivos do que pró-ativos”, diz, referindo-se aos inúmeros e-mails e telefonemas que recebia diariamente de interessados em abrir uma franquia da China House. O progressivo aumento do número de candidatos também não foi suficiente para que Torres mudasse sua estratégia. Pelo
contrário, só reforçou ainda mais os critérios de seleção da rede. “Não me interessa se existem cinco, dez ou 100 interessados, pois não tenho intenção de expandir  agressivamente. Abrimos novos restaurantes conforme encontramos candidatos que estejam realmente de acordo com as metas e padrões da marca”, informa.

Com a média de uma inauguração por ano, foi apenas a partir de 2008 que a China House começou a crescer de forma mais acelerada, com a abertura de três a quatro novas unidades ao ano. Para ajudar nesse processo, Torres contratou a consultoria empresarial Fábrica3. Hoje a empresa conta com um profissional contratado para cuidar exclusivamente dos  novos contratos.

A iniciativa tem feito a China House expandir os horizontes. No ano passado, a rede inaugurou seu primeiro restaurante fora do Estado de São Paulo, localizado na cidade de São luís (MA). Até o segundo semestre de 2011, a expectativa é chegar a dois outros estados, com unidades em Brasília e Manaus. Dois novos contratos na região da Grande São Paulo também estão em negociação para este ano. “Vamos manter nosso ritmo cauteloso de expansão, porém de forma mais pró-ativa, com a meta de aumentar em 10% o faturamento da rede em relação ao ano passado”, revela Torres

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