Quando é hora de parar de reinventar a roda nos negócios

*Por Uranio Bonoldi

Impulsionados pelos avanços da tecnologia, líderes têm buscado diferentes caminhos para inovar e protagonizar as transformações no mercado. Porém, se não for promovida de forma correta, a inovação pode se tornar um discurso inócuo, com empresas tentando reinventar a roda sem de fato trazer nada de novo. Em razão disso, é importante avaliar se as ideias que prometem inovação realmente trazem uma forma disruptiva e com impacto positivo na apresentação de um produto ou serviço. Caso contrário, o mais inovador muitas vezes é manter a tradição.

Há diversos casos em que grandes ideias nasceram primeiro de uma necessidade – ou seja, surgiram como uma solução para um problema que já existia. Apesar de haver, no mundo do marketing, situações em que se criaram nos consumidores uma necessidade, e aí se vendeu um produto ou serviço em cima disso, é muito mais seguro que o caminho seja primeiro de observar o mercado e encontrar o que clientes e parceiros estão precisando.

O discurso da inovação, se não for bem compreendido, pode fazer com que líderes invistam em ideias que não trarão qualquer retorno, porque não estão em consonância com as verdadeiras necessidades do mercado. Todo empresário sonha em ter uma grande ideia que vai mudar o mundo, e obviamente não há nada de errado em sonhar alto, mas essa é uma expectativa que precisa ser manejada. Nem sempre conseguimos ter ideias para grandes inovações – e digo mais, nem sempre as inovações estrondosas são necessárias. Às vezes o que o mercado precisa é de mudanças pontuais que ajudem a melhorar aquilo que oferecemos para clientes e parceiros.

Ressalto ainda que em todos os setores da economia se vê exemplos negativos de grandes ideias que não deram certo. Desde um produto que acabou não sendo comprado porque suas funcionalidades não eram de fato úteis para o usuário, ou a implementação de um sistema de computadores que prometia ser mais avançado, mas era complexo demais para que os colaboradores utilizassem, até a adoção de um modelo de negócios que no fim se mostrou insustentável. Os prejuízos podem ser enormes, gerando inclusive falências.

O caminho para evitar transtornos, portanto, é uma boa pesquisa, com análise aprofundada de todos os possíveis riscos, reconhecendo quais são as necessidades daqueles que irão lidar diretamente ou indiretamente com o produto ou serviço em questão. Se a mudança, por exemplo, será no uso de uma matéria-prima, como isso vai impactar a relação com os fornecedores? Os colaboradores conseguirão trabalhar tão bem quanto com a matéria-prima anterior? Os consumidores irão aprovar a mudança? Há razões consistentes para o uso de novo material ou é apenas jogo de mercado? Essas perguntas – e muitas outras – precisam ser respondidas, pois a proposta de valor tem que ser clara para o cliente.

Se por acaso não houver rotas possíveis para inovação, não há nada de errado em manter as coisas como estão. Claro, sempre é possível buscar melhorias nos negócios – trazer mais eficiência, agilidade, transparência, reduzir riscos, baratear, aprimorar, etc. Mas se todas essas possibilidades estiverem esgotadas, por que não deixar que a inovação fique para outro momento? Quando mantemos certas tradições, mostramos solidez, levando em conta ainda que algumas práticas, produtos ou serviços no mercado podem ter um bom grau de atemporalidade – sempre foram feitas do mesmo jeito – porque dão os resultados esperados. Inovar, nesse contexto, está em reconhecer que nem sempre a inovação é necessária.

* Palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO. É autor dos thrillers da saga “A Contrapartida” e de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”.

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